quinta-feira, 30 de dezembro de 2010

Epitáfio

Sabem como o coração dela parou de bater??
Nascera naturalmente, em alguma esquina da cidade pequena. Fora ofertada dois lanches, um pão grande e um hamburguer gorduroso simplesmente impróprio ao seu consumo. Apesar de tudo fora salva, trazida até uma casa.
Foram alguns anos, poucos meses escondida do dono da casa, que não queria cães, e depois revelada na fase adulta. Cativou-o. Se tornou companheira em todas as horas, cadela de rua que era, feia, com dentes tortos. O dono original talvez tivesse preferido dar-lhe um tiro na tempora; teve dó e não o fez. Não sei ao certo, mas é possível dada a assimetria que tinha. Um animal feio.
Certa vez fora atacada na jugular. Ganhou dois furos profundos na garganta que lhe sangravam a vida o dia inteiro. Fora dificil convencer os donos, antigos e ignorantes que eram, a leva-la a veterinária. Contudo consegui, e ainda me lembro da frase: 'Se não fizerem isso essa cadela vai morrer'.
Foi salva. Como foi necessário pegá-la a força tornou-se muito mais arredia. Agressiva. Atacava sem muito sinal, mas mesmo assim era inteligente. Até mesmo foi mãe... pariu uma ninhada inteira e ganhou, além da agressividade, pequenos espasmos faciais como marca.
Precisava de um banho, a cadela. Ganhou um parasita nas costas e havia um seringa preparada de castração química que também deveria ser aplicada. Violenta que era decidiu-se por uma solução - anestesia.
Não sei quantas vezes disse que deveria ser aplicado um sonífero para cães. Os donos, ignorantes, assentiram logo. Um terceiro arrumou um remédio. Garantiu que sabia o que estava fazendo.
Não vi a caixa de Dramim antes que mais da metade da cartela tivesse sido ministrada ao animal, em intervalo de quanto? Duas horas, talvez.
Ela não dormia. Estava sonolenta, contudo. Aquilo não era remédio veterinário, não senhor... a dose certamente não fora respeitada.
'Precisamos cuidar dela, vamos pegá-la a força'. Deixei que tomassem conta. Posso ter crescido, mas ainda não posso com os mais velhos que fazem troça, pois gosto de animais.
Era dia trinta de dezembro de 2010. Hoje. Havia rojões, pois em pouco mais de vinte e quatro horas era ano novo. Morte nova.
Não ligo quando animais morrem. Não sentiria nada pelo espirito moribundo da cadela se simplesmente morresse quando fora mordida na jugular, ou em tantas outras vezes que fora atacada pelos animais da vizinhança. Aquilo, contudo, não foi uma morte. Foi tortura, seguida de assassinato.
Talvez a overdose do remédio tenha enfraquecido seu coração. Os rojões a assustavam, mas não se enfiou dentro da casa como fazia normalmente, pois estava dopada. Foi presa, colocaram-na na focinheira. Quando ela começou a puxar a corda demais ainda poderiam ter evitado. Não sei como falar com ele. Sei que ele se responsabilizou. Não estava lá, mas certamente fora ele a segurar a corrente, pois era o mais forte dos dois homens. Ainda teria havido tempo se a soltassem quando perceberam que se debatia demais e tinha espasmos. Meu pai me disse que teve espasmos.
Fui espiar. Jazia morta, mas eu não disse nada. Sou cientista, e serei um biólogo - a morte é natural e de modo algum lamentável. Seria assim se ele não tivesse olhado para mim, com uma lata de cerveja ainda na mão, e se justificado: 'Morreu de ruim'.
Se qualquer ser vivo fosse conduzido a morte por ser ruim, tenho certeza que eu teria nascido morto. Isso foi tortura seguida de assassinato. Nada muda o fato.
Não sei se ainda vou voltar atráz... mas passarei o ano novo de preto. Com ele? Com ele eu não falo mais. Não é a questão de ela ter morrido em sua mão; é o desrespeito com que morreu. O que caracteriza o assassino não é o desejo de matar - nesse caso seria eu mesmo um assassino - nem a concretização do fato, pois a morte e a competição são naturais. O desrespeito pela vida caracteriza o assassino.
Não sei mais onde enfio minha raiva.

Epitáfio

Faço um luto por o que eu sou: Homo sapiens, a pior espécie que já pisou nesse planeta.

sexta-feira, 24 de dezembro de 2010

.Orquídeas.

Tinha sido uma noite não-dormida. O dia anterior fora nada mais que uma abstinência continuada do remédio doce, já usado de forma homeopática há dias. A dose final, ainda que aguada pelos quilometros, veio salvar-lhe a alma as 3h57 do dia 24 de dezembro. Não se importava se era véspera de natal.
Houve um urro de nostalgia naquela manhã gélida de orvalho. Ao não acordar pela manhã decidiu-se por um banho, um agrado ao corpo suado de insônia, da reviravolta sob os cobertores inúteis que ninguém puderam aconhegar a contento. Com as cortinas ainda fechadas, e o sol sendo subjulgado pelos vários filtros que a atmosfera e a geografia da paisagem lhe impunham além dos tecidos própriamente ditos no interior da casa, caminhou decidido. Olhos coçando, irritados. Boca de sabor rançoso, pele oleosa. Nada parecia estar no lugar, senão a luz do sol recém-nascido e seu choro de pássaros ao deixar o ninho.
Optou por manter as luzes apagadas. Pouco podia ver no escuro do banheiro, e lembrou-se que este era um favor a criação de novas terminações nervosas em seu cérebro, inútil. Ligou a água e permitiu que ela lhe caísse pelos ombros. Não era fria ou quente, e como não era dos meio-termos ajustou a temperatura para mais que escaldante. Talvez se sentisse no inferno: molhado, cansado, escaldado, cego. Com certeza sentia-se em casa: tranquilo, aquecido, presenteado com cada canto animal.
Pensou na caminhada matinal. Pensou durante todo o enxague do que era. Não foi.
Em lugar disso abriu as venezianas e ligou o computador. O lusco-fusco não permitia enxergar as teclas. Escreveu qualquer coisa que se lhe passava pela cabeça atordoada. Leu. Releu. Considerou uma babaquice; pensou em justificar-se; pensou em não fazê-lo; por fim o fez de qualquer maneira covarde.
Não voltou a reler o texto como o ritual exigia e abandonou-se sobre os cobertores inúteis. Caiu no sono. Caiu no sonho. Abstinência. Falta.
O resto do dia foi como digo: abstinência, abstinência, abstinência. Outra dose. Discussão; abstinência.
Tristeza.
Foi uma tristeza meio disfarçada, meio escondida do resto do mundo. Criança que era não se furtou a avisar o resto do mundo de maneira simples: 'Triste'. Velho que era evitou dar explicações. Aquilo fora uma falha, não um pedido de atenção. Agiu normalmente.
Sem demonstrar desespero, buscou por todos os meios. Tentou por todos os meios. Não entendeu. Abstinência, abstinência, falta... dose! Recebeu a dose quando acordou seu anjo, e deixou-a dormir novamente para acolher seus demônios. Abstinência.
Orquídeas são só parasitas. Na falta de seiva elaborada simplesmente não desabrocham flores.

.Abstinência.Abstinência.Abstinência.Abstinência.Abstinência.Abstinência.

Dante e o Abismo

Passei uma parte da minha noite hoje no escuro - ACORDADO. Li algo que me deixou meio irriquieto. Gosto de vampiros, e lia Memnoch de Anne Rice, simplesmente a melhor escritora de história de vampiros e bruxas de que já ouvi falar. Só por um momento ignore que o livro era sobre os vampiros e lhe explico o que houve.
Refugiei-me na leitura com a única esperança de entreter-me, entediar-me e dormir. Contudo me deparei justamente com o momento que o fictício Lestat visita o Paraíso e o Inferno, acompanhado do Demônio (as palavras foram capituladas como Rice, ou antes sua tradutora, sugere).
Memnoch, o Demônio, faz uma descrição detalhada da criação dos anjos e lança um argumento para a existencia da Terra, selvagem como a vemos: um experimento. Segundo este fiapo de ficção toda a Terra e o Tempo em sí são nada mais que uma experiência Daquele que criou tudo para entender, Ele mesmo, de onde ele surgiu. Me pareceu muito belo esse raciocínio - nós criaturas Dele, e Ele por sua vez também nossa criatura.
Gostei da maneira como o livro descreveu toda a evolução, em uma ordem assustadoramente bem estruturada em relação ao Darwinismo. Igualmente, a filosofia tecida por Anne Rice me pareceu também assustadoramente de acordo com as histórias contadas e recontadas em tantas mitologias, seitas, religiões... Me pergunto se a ficção foi uma maneira desfarçada e astuta de deixar transparecer algum tipo de crença pessoal. Não digo que algo se revelou a autora, e se dissesse nem acreditaria - me parece cada vez mais claro que minha única crença intrínseca é a beleza - mas pela forma bem moldada em que a coisa se desenrolou, e pela maneira tão prazerosa com que foi escrito e lido esse pedaço de texto, me é inevitável concluir que ela pensou muito sobre o assunto. Iria tão longe quanto dizer que o livro inteiro fora escrito com este propósito, pois seu início é extremamente enfadonho, basicamente páginas desperdiçadas para ajudar os leitores a acompanhar a série de histórias.
Outro detalhe que me chamou a atenção: os anjos e almas se comunicavam através de canções. Li isso também em O Silmarilion, de Tolkien (recomendo!). A primeira vez que li essa idéia amei-a e abraçei-a de pronto. Era linda. Meio que nutro uma esperança de que a 'canção da criação' seja uma verdade em algum texto de valor histórico que desconheço ou que simplesmente ainda não tenha sido encontrado. As probabilidades não são pequenas, ambos autores a que me referi são conhecidos por fazer pesquisas antes de escrever.
Não devia me apropriar de tantas coisas, tampouco misturar crenças com ficções e realidade, mas a únião de todas as maneiras de enxergar as coisas, a união de todas as minhas facetas, se perfeitamente ordenada é certamente a hipótese que mais se aproxima da verdade. Só sei viver assim. Só sei viver uno, em busca da verdade.

Este é o fim do texto, e o momento das explicações. Estou confuso. Pensei primeiro em uma série de desculpas que possam impedir fanáticos religiosos de me atacar por algo tão imbecil. Depois, ou ainda quase que ao mesmo tempo, pensei também em uma série de ressalvas para explicar que eu mesmo não sou um fanático e não acredito em nada tão fortemente que não possa discutir - a beleza é discutível, é o que a torna prazerosa. Por último pensei em deixar tudo no não-dito, afinal a inexistência causa mais comoção que a existência. Tomei a decisão de ser sincero. Se for inteligente não preciso explicar muito mais que isso, e poderá vislumbrar a loucura de todas as minhas ligações neurais de um tapa só. Espero que não estivesse em busca de nenhum especial de natal!

quinta-feira, 23 de dezembro de 2010

Eu (revisited)

Há tempos que preciso mudar quem sou, o que inclui, principalmente, mudar a imagem de quem sou mais do que simplesmente mudar o interior. O interior verdadeiro nunca muda. Nunca. A mudança mais profunda no sentido de mais relevante é a mudança exterior. Assim mudo meus perfis, meus textos, meus registros históricos por assim dizer.
Contudo mudanças não ocorrem sem perdas, e sempre que mudo algo que escrevo aqui, no cyber espaço, não consigo deixar de pensar no quão triste é deixar que essa informação se esvaia. Antes fosse um caderno amarelado de páginas quase se desfazendo, meus textos seriam mais imortais que os que escrevo aqui, em códigos binários ilegíveis senão a esta coisa escrota. Assim deixarei abaixo um texto de apresentação que estou prestes a matar, arrancar como erva daninha de seu local de enraízamento.


Was ist mir?

Se há algo que deva saber sobre mim é que eu gosto de cachorros.
São animais incrívelmente sociáveis, carinhosos e infantis. Eu, como um
cachorro, sou bastante passional. Me sinto inteiro quando brinco com os cachorros. Me sinto imensamente feliz. Estranho que meu nome seja Sirius, faz muito sentido.

Você deve saber também que almejo algo. Almejo uma imagem na qual entra uma tela de computador onde escrevo, insistentemente. Talvez haja espaço sobre a mesa para estudos anatômicos de plantas, pessoas ou animais... enfim, de coisas vivas. Talvez haja espaço para um quadro de besouros espetados.
Quero um cão. Já disse que gosto de cães. Ele (é um garoto) pode estar lá fora, pedindo carinho, ou deitado no tapete, aos pés da cama - essa imagem é em um quarto. Há nela também capuccinos, e um alguém que se encaixa perfeitamente, e que agora ganhou contornos bem definidos. Não se importe com a aparência da casa, com o lago, ou com as espécies de árvores do jardim - estes são detalhes prazerosos que não dividirei assim, descuidadamente, com pessoas alheias a minha imagem.

Não me falem em dinheiro, não insistam em racionalidades - o quê almejo é assim, simples e inatingível. Sou um idealizador, uma alma platônica. Tenho inclinações socialistas, mas não flutuo em minhas idéias ao ponto de achar que isso daria certo. Ao contrário, as coisas não dão certo pela falta de pessoas, assim como eu, completamente sem sentido. Sou feliz por ser completamente gouché.
Quero tocar piano. Já toquei, muito pouco.
Quero falar alemão. Já falei, muito pouco.
Quero conhecer a Inglaterra. Já conheci, muito pouco.
Quero viver plenamente. Já vivi, mas foi muito pouco.
Sou um ser de exageros. Nada me basta.
Nasci no outono. Talvez por isso goste do frio e traga em mim uma alma meio depressiva. Quando não sou grave, sou criança. Há uma sabedoria sem fim na ingênuidade; embora isso não passe de uma crença. Não tenho crenças, se não as que me convencem pela sua beleza, pois as coisas belas tem o privilégio de ser completamente sem sentido.
Nesse aspecto, devo ser belo. Espero ser belo, pois a quem não o é só resta o sentido e a praticidade. Sou por vezes racional e prático sem me reduzir a isso.
Rien de rien >>> Das ist mir.

domingo, 31 de outubro de 2010

First Day Of My Life (Bright Eyes)



And you said, "This is the first day of my life
I'm glad I didn't die before I met you
Now I don't care, I could go anywhere with you
And I'd probably be happy"








               My love has made me selfish. I cannot exist without you — I am forgetful of every thing but seeing you again — my Life seems to stop there — I see no further. You have absorb'd me. I have a sensation at the present moment as though I was dissolving — I should be exquisitely miserable without the hope of soon seeing you. [...] I have been astonished that Man could die Martyrs for religion — I have shudder'd at it — I shudder no more — I could be martyr'd for my Religion — Love is my religion — I could die for that — I could die for you




Your girlfriend

quarta-feira, 27 de outubro de 2010

Saxão

O frio da Inglaterra
Quando bate nos pelos do corpo,
Invade os poros da alma,
Congela os ossos do peito.
Nos grava com toda a memória
De guerra, conquista, vitória.

A música nos pubs da Inglaterra
Chega te acuando devagar,
Pega a moral e a joga por terra,
Põe a cabeça a rodar.
Nos embriaga de repente,
Traz a verdade à boca dos que mentem.

A sociedade Inglesa
Parece nunca ferver.
Mantêm-se o humor com destreza
Em meio a aspereza que parece corroer.
Não há boa ou má educação,
Há o convívio;  a obrigação.

A bebida Inglesa
É alcool como a de qualquer lugar.
Estranha-se apenas quem bebe,
Pois não há mágoas a sufocar.
Não há briga, nem tiro, nem facada no peito;
a morte passa longe da carne, atinge a alma em cheio.

quinta-feira, 21 de outubro de 2010

Inércia

Que vontade que tenho
de por um cigarro na boca
e matar o meu tédio
com tabaco-remédio
pegar o elevador
saír do térreo
pular do prédio
de braços abertos
sob olhares indiscretos
abraçar o concreto
e também o mistério
curar o meu tédio
com morte-remédio

Há tempos já que escrevi essa poesia. Não olhem assim para mim, não sou um suícida. O que me motivou a publicá-la são acontecimentos bastante alheios ao meu coração, de um Sísifo bastante desconhecido para mim. O fato é que me assusta. Bem-vindos ao mistério.

segunda-feira, 11 de outubro de 2010

  Você
meu Instinto e bravura

   meu Veneno e cura
     minha Inata loucura
     paixão, Amor, ternura
                Negação da amargura.

Ta aí, meu amor, um pedido de desculpas um pouco desconcertado pela última vez que te pedi uma visita no blog... É claro que não é só isso. Eu tive vontade de escrever; eu não conseguia parar de pensar em você. As vezes queria que você tivesse sido minha primeira paixão; porque certamente é a mais real e intensa. Nunca fiz um poema para uma mulher, até aquele para ti, escrito no nosso romance. Quem diria que, além de ser a primeira a me levar ao poema, ainda me levaria a fazer algo com o seu nome. É sério, amor, meu sub-consciente conspira ao seu favor. Te amo.

sexta-feira, 8 de outubro de 2010

Pulsos Cortados

Não quero
mais usar a minha raiva...

Agora queria
era ter uma faca,
pois já tenho um pescoço.

Não importa o branco da roupa,
o que importa é o negro da alma,
é a falta
da calma.

É esse veneno
tão sutil,
extremo assédico!
PARADO.
Terrível e belo.

Não me importa
que o telefone toque.

Não me importa
que logo chegue a morte.

Não me importa que eu queira desistir.

O que importa?
É o que está por vir.

É quem vai
me salvar,
alguém sempre
me salva.

E caso não salve,
não importa,
está na hora.
Não me importa
que a morte
chegue agora!

Não me importa
a tempestade
lá fora.

Não me importa
a conversa
n’outra sala.

Tudo o que importa
agora
é que a morte
não demora.

domingo, 3 de outubro de 2010

Parafraseando Adriana

Confesso que depois que li achei meio tontinho... Mas sabe, apaixonados são bobos, e não me considero nada além de um apaixonado. Se não agradar apenas ignore, por favor, e respeite a expressão simplista de um coração infantil. Guarde as minhas cartas e Não me deixes nunca mais Assim serei feliz Meu bem! O romance que eu te dei Ainda  o tens Eu sei! E se tiver Beija-me! Não me deixes sozinho Pois só assim Eu viverei em paz Quero que sejas bem feliz me tendo por seu rapaz... Guarde as minhas cartas e Não me deixes nunca mais Assim serei feliz Meu bem! O romance que eu te dei Ainda  o tens Eu sei! E se tiver Beija-me! O romance que eu te dei Ainda  o tens Eu sei! E se tiver Beija-me! Beija-me! Beija-me! --------------------------------------------------------------

terça-feira, 7 de setembro de 2010

Ataque...

...sempre quando acuada

Powerslave

Boa tarde, caro leitor. Espero que seja uma boa tarde, pois a minha é uma tarde horrível. Há dias em que acordo assim, com gosto de sangue na boca - de novo espero que já tenha se acostumado a minha maneira fatalista de descrever sentimentos e entenda que isso não tem sequer um cisco de antropofagia, é só raiva. Hoje, especificamente, não vou pedir perdão pelo exagero da forma de minha escrita. Entenda ou dane-se, vá ler outro blog.

Está chovendo. Eu até gosto da chuva. Chuva pressupõe um lugar acolhedor, um sofá com cobertores, filmes na TV, família, capuccino quente. Depois de um período de seca razoavelmente longo minha casa está com camadas espessas de poeira. Não há um lugar onde eu possa me esconder da secura. Sabe quando o lugar está overwhelming? Não faço idéia de qual é o termo em português e é problema seu, caro leitor, se não entende o inglês. O termo anglicano é capaz de descrever a situação melhor que o lusitano, e não vou empobrecer meu texto pela possibilidade de leitores menos cultos que eu.

Ouço Rock'n Roll pela primeira vez em décadas. Precisamente o álbum que dá título a esta entrada de diário. Julgo as entradas de diário expostas ao público na internet uma babaquice, e ainda assim estou aqui. I'm somewhat vain.

O pior desses dias de raiva é que não há neles motivo algum para se ter raiva. Isso é o pior. A razão das pessoas calmas não entende que não há justificativas para a raiva. É como a poesia contra a prosa. A primeira é a forma, não tem explicação ou utilidade, a segunda é a motivação em si, e morre sem alcançar seus objetivos quando não tem sentido. Diante disso esse texto deve ser uma merda. Não tem objetivo nenhum.

Aliás, minha raiva vem de algum lugar sim. São todas coisas pequenas, sempre bastante pequenas para passarem desapercebidas e serem relevadas. Num dia qualquer, em que se acorda com não sei que gosto ruim na boca, ou não sei que incomodo nos ombros, ou não sei que fio de cabelo um pouco fora do lugar, ou não sei que o quê, que também é suficientemente pequeno e insistente, explode-se.

I wonder if I'll give up on hitting the "post" button down there. I might do it, after all it may work as a trap door for my heart, and throw alway all this mud.

Em tempo: o ócio não é uma ferramenta criativa. Quem foi o idiota que disse isso? Sentimentos intensos - ou seja reações químicas suficientemente complexas e incomuns - são uma ferramenta criativa. Tudo o que o ócio faz é trazer o tédio, e tudo o que o tédio faz é trazer a raiva, ou a indiferença. O fato, caro leitor, é que eu simplesmente não aguento mais não fazer nada.

Agora sim - na calma: perdoem. Perdoem este texto, filho da indiferença.

sábado, 4 de setembro de 2010

Réplica a A. Caeiro

Sou um guardador de rebanhos?
Sou um açougueiro,
matador de rebanhos.

Os rebanhos são as minhas idéias:
são pretas,e são brancas,mas não me torno cinza,
torno-me incolor.

quinta-feira, 2 de setembro de 2010

Amo

Eu melhoro
a cada dia.
Não me demoro
na minha vida.
Tudo fica tão
mais fácil,
melhor.
E, me perdoem,
burlo a regra,
“mais melhor”!
Já não me
importo se falo
errado.
Se PENSO errado.
Se VIVO errado.
A questão é
que estou bem
assim.
O importante
é que me encontro
nesse conto
que agora não conto –
vivo.
E aprendo,
e me apaixono,
e não me arrependo
de nenhum erro.
Sei que sou assim.
Sei,
pela primeira vez,
o que esperar de mim.

quarta-feira, 1 de setembro de 2010

sexta-feira, 20 de agosto de 2010

...a vida inteira de um inseto, um embrião pra virar feto, um dia em Saturno...

 (Isto era pra ser uma surpresa, pena que você viu antes da hora... de qualquer jeito, ainda vale. Eu poderia escrever mais coisas, há muito que ficou no não-dito... porém, prefiro deixar para os próximos meses. Ou os próximos anos...)


E você prometeu que eu leria o livro até o final:
Apenas quando examinaram os anéis reconheceram quem era. 
O Retrato de Dorian Gray”
...
    Há marcas que nos distinguem, mesmo quando tudo o que era de nossa aparência se esvai. Os anos passam, e vão com eles nossos rostos, nosso físico, e nossa juventude. Porém, há coisas que estarão sempre conosco. São essas coisas que definem realmente quem somos e porque existimos. Uma delas é o nosso sentimento. Sentimentos, principalmente aqueles que compartilhamos com outra pessoa, fazem-nos sair de uma esfera de egoísmo e adentrar em algo muito mais nobre, que pode até não nos fazer melhores, mas nos faz muito mais humanos. 
    Amor, parece que tanta coisa se passou nesse 1 mês, que fica quase impossível descrever em palavras, assim, eu voluntariamente me abstenho de contar os fatos ocorridos desde a nossa pequena conversa, naquele ônibus... aquela conversa em que eu praticamente me embebi de cada palavra que você dizia, desde aquele dia em que eu notei que havia uma coisa muito peculiar e muito fascinante em você... Não sei precisar o momento exato, mas quando fui ver, algum lampejo me dizia que estava apaixonada. E não foi apenas um leve deslumbramento com seu jeito, ou com o seu modo de se expressar, mas um envolvimento de tal maneira que não consegui mais encontrar escapatória. Quando estou com você, a fronteira entre realidade e sonho fica tão tênue que já nem sei mais divisar o que é real e o que é imaginação. 
    Inacreditável como temos tantas coisas em comum, o gosto pela filosofia, autores prediletos, o jeito de escrever, uma estranha nostalgia e até mesmo... o cappuccino. Coisas que nós nem desconfiávamos a nosso respeito e que, depois de nos conhecermos, descobrimos do melhor modo que há: o sobressalto. 
    Desde que ficamos juntos pela primeira vez, venho aprendendo mais e mais com você, meu amor. É como se você reservasse para mim a cada dia uma nova tonalidade de felicidade. E cada dia tem sido uma maneira diferente de me apaixonar por você. E você fica lindo quando repousa, quando lê, quando está prestativo, quando me vê chegar... (além de ser um perfeito objeto de estudo!). Você tem o melhor jeito de pegar no meu rosto, de fazer eu me sentir confortável, de fazer meu coração bater muitas vezes mais rápido, de fazer com que eu me sinta mais bonita e de desconstruir o meu raciocínio de modo cada vez mais desafiador. Com você eu aprendi o que é amar, e ser amada.
    Quando você se expressa, vai além das palavras e se manifesta em gestos, sons, idéias, e coisas que nada nem ninguém conseguiria demonstrar. E assim, formamos uma imagem sem espaços vazios e, ao mesmo tempo, vamos deixando pequenas partes de nós, até que fiquemos tão pequenos que tendamos a zero. E sejamos como uma ínfima parte – que compõe todo o Universo. Como só você pode entender – ou não.

    Que bom que eu te encontrei.

    Qualquer dia, em um chalé de madeira, iremos compor um dueto,

    e eu vou te fazer muito feliz, por todos os dias da sua vida.

    Te amo.
    Vivian.




terça-feira, 17 de agosto de 2010

Ração

É estranho como cães nunca estão tristes ao comer. Cães se lambuzam, fazem barulho, rosnam e mordem a aproximação de pessoas, mas mesmo assim exibem sempre um sorriso de caninos afiados quando comem. A felicidade parece fazer parte do respeito para com a comida, a presa, a caça. Talvez até respeito para com a morte do que se come.

Quisera eu comer como um cão, infelizmente o faço como gente.  Como em pratos de louça branca com garfo e faca, mantenho a coluna ereta, ás vezes - acreditem! - até mesmo tiro o boné. Essa forma de comer me enoja. Pareço assustadoramente civilizado à mesa.

Hoje vi que alguém comia só. Ao contrário dos cães, seres humanos apreciam a companhia, e eu pude reparar que também ao contrário dos cães os seres humanos se sentem tristes. Hoje vi que alguém parecia mergulhado em tristeza enquanto comia.

Não sei onde quero chegar, não me pergunte, mas vejo que não há porque comer tão civilizadamente quando não há em torno de si civilização - pessoas falando, rindo, te olhando e sendo olhadas de volta. Se não há nada disso, ou se nada disso lhe tráz felicidade, então você é só e, sendo só, deveria comer como um cão. Se comesse como um cão seria ainda só, mas talvez fosse feliz. Procuro ser um pouco como um cão, todos os dias da minha vida.

quinta-feira, 5 de agosto de 2010

Nasci no outono...

E o vento, e as árvores, certamente me soparam algo de depressivo...

quinta-feira, 29 de julho de 2010

Fantasmas

Tenho fantasmas. Tenho muitos fantasmas o tempo todo.
Sabe quando se usa aquele colar o tempo todo? Precisamente o crucifixo. O crucifixo é um ornamento dos mais belos do mundo. Denota uma fé intrínseca nos que a possuem, e um cepticismo belo nos que não a possuem. Denota uma beleza simples, uma beleza que remete ao sofrimento e ao romantismo, denota também um clacíssismo da forma... pelo menos a mim - mas sou louco.O fato é que quando se retira um colar destes, destes que fazem parte da gente, sente-se ainda sua presença. É uma presença dada por um formigamento estranho, uma presença ausente, uma presença que se sente mais do que a ausência de quando se está presente.
Há essa tendência em sentir a falta da coisas das quais nos apropriamos. Descobri esses dias também uma tendência a sentir falta das pessoas das quais nos apropriamos. Não falo em coisificação. Ela não é uma coisa. Não amo as coisas. Uso as coisas, e amo quiçá a sensação que elas me trazem. Amo as pessoas, todas elas; Amo todas elas. Amo com letra maíuscula, como Camões Amava exclusivamente as mulheres, mas Amo a todos. Também odeio aos que Amo, mas não deixo de Amar. A ela, especificamente ela que você, leitor abelhudo, não precisa saber quem é, amo e Amo.
Perdoem a divagação - não perdoo a mim mesmo por ela, mas perdoe você, pois não me darei ao luxo de apagá-la e sequer me importo se serei compreendido. Voltando ao ponto que é o que importa, eu sinto falta das pessoas que amo. Tenho fantasmas das pessoas que amo. Durmo com fantasmas dela deitados sobre meu ombro, e quando acordo, e vejo que a sensação fantasma ainda está lá tenho forças para levantar. Não quero dizer que preciso desta sensação para viver, mas tenho prazer nessa sensação e não é um prazer meramente carnal. A questão é que levantar-se da cama por hedonismo, por uma busca pelo prazer, é sempre muito melhor e muito mais imperativo que simplesmente levantar-se da cama.
Sei que Amo. Aprendi a Amar.
Tenho fantasmas. Tenho fantasmas e só por isso sei que amo e Amo.
Chega. Por hoje sou feliz.


Esse texto pressupõe uma dedicatória. O não-nome causa mais escândalo e traz mais lembranças que o nome propriamente dito, por isso deixo a dedicatória assim, no ar. Deixo essa dedicatória no ar para que você colete como presente simples de uma alma estável - não falo com você, caro leitor; por favor recolha-se ao seu anonimato. Falo de você, você cujos olhos não saem dos meus olhos. Te amo.

sábado, 24 de julho de 2010

Operações Matemáticas

As pessoas são como números. Cada um de nós é um e é aproximadamente (mesmo que a aproximação as vezes seja um tanto grosseira) igual ao outro. O erro da humanidade não está em ser um conjunto de indivíduos, mas na composição deste conjunto.
Somamo-nos uns aos outros. Eu sou um. Eu e minha casa somos três (embora costumássemos ser quatro ou cinco), eu e minha família próxima somos algo perto de dez... e então somo mais uns, distantes, e seremos quase cinquenta. Quando entro na unversidade me somo a mais cem da mesma sala, quiçá mais. Alguns uns estão próximos e são imediatamente somados a mim. Outros uns estão distantes e sequer sei seus nomes, apenas somamos por estarmos na mesma caixa, na mesma universidade, mesma cidade, estado, país, planeta. Quantos somos? Um estatístico talvez possa precisar de forma imprecisa, o quê não faz o menor sentido. Somos infinitos.
Infinito. Pode parecer pontual, exato, belo. Não há nada de belo no infinito. Infinito mais ou menos um continua sendo muito grande, continua sendo grande demais, e continua sendo infinito. A lógica fica caótica. O tudo caminha para a destruição.
Eu - ignore o mundo, falo de mim - não sou assim. Recuso-me a somar. Não me somo sequer àqueles que amo, não! O infinito é efêmero e morre com grande facilidade. Ao contrário eu tenho uma ânsia por ser imortal e isso me norteia a permitir que partes de mim sobrevivam, pois o todo sempre morre. Eu me divido, pedaço a pedaço, entre as pessoas que passam por minha vida. A divisão, ao contrário da soma, implica perda e implica intimidade. A divisão é verdadeira, mesmo que as vezes dolorida.
As vezes me pergunto se ao me dividir sobra algo de mim para mim mesmo. Me pergunto ainda se o quê talvez sobre é a parte central, a essência, ou a impureza, descartável. Não importa, pois me diminuo ao longo da vida... Sou um meio, um quarto, um oitavo, um dezesseis-avos, um trinta-e-dois-avos, um sessenta-e-quatro-avos... um muito-grande-avos, um infinito-avos. Sou zero. Sou nada. E o nada não pode ser reduzido pela morte.
Peço mui respeitosamente que abstraía-se de somar-se a mim, caro leitor. Não desejo de forma alguma a sua presença, ela não me trará prazer algum. Ao contrário, divida-se. Se toque, e toque-me, por favor. Permita-se ganhar uma certa intimidade, e não se permita morrer.
A maior falha da humanidade é que soma-se com a indiferença quando deveria dividir-se com o amor. Sou uma fração de todos aqueles que amo; todos juntos tendemos a zero, e o nada é tudo.

sábado, 17 de julho de 2010

Fehlende Liebe

Ontem senti-me como que na Europa. Ontem, viajei de trem, como faço todos os fins de semana, quiçá alguns nos quais prefiro - ou antes, necessito - permanecer em minha segunda, ou terceira, casa. Já perdi as contas de quantas casas me possuem, pois não possuo nenhuma delas.
O fato é que ontem chovia fina e insistentemente. Eu usava uma calça comum, duas blusas e um boné, carregava uma mochila cheia e tensionava os músculos, cada um deles, na busca de um calor humano, de mim para mim mesmo. Como qualquer pessoa normal, nessas condições de roupas molhadas e tardes cinzas, eu talvez devesse sentir-me triste. Não me senti triste. Senti-me feliz. Aliás, sempre sinto um quê de romance que vem com o frio.

O chão treme, os trilhos chiam e o trem se aproxima. As pombas, ratos de asas e de beleza, decolam em massa ao fugir do caminho da morte. Este carro não vai até Francisco Morato, mas traz o aviso luminoso: "RECOLHE"... Passa reto, pois não presta mais serviços, e açoita a minha face descoberta com suas lâminas de vento. Meu olhar fixa e acompanha o movimento da locomotiva. Meu capuz luta insistentemente pra se manter sobre minha cabeça. Seguro a aba do boné. Neste momento sou só. Neste momento sou único no universo, e não posso deixar de me dar ao luxo, ligeiramente esquizofrênico, de parar o tempo e afastar a camêra para terceira pessoa.
Mudo para a camêra térrea... vejo os contornos de meus sapatos, o ondular da calça, o capuz corajoso, a aba do boné e a sombra do meu sem rosto sob o fundo acinzentado. Vejo as pombas em revoada, e do canto inferior esquerdo surge um sem fim de velocidade, um basilisco elétrico em movimento estático, pois se trata de uma imagem que pinto parada - atemporal. O estranho não é o como que as imagens paradas criam movimento no mundo dos sonhos. O estranho é como que a solidão do momento toma a forma de romantismo.
Do espaço vazio no meu abraço inexistente têm-se a impressão que um dia ali existirá alguém. O calor só existe em sua importância e plenitude onde não há calor algum. O frio pressupõe a possibilidade do calor. E esse sentimento de imagens paradas em alguns segundos que não se vão me remetem a Europa. Me remetem talvez pela distância e pela falta que sentia do Brasil. A arquitetura da Luz é muito propícia também às lembranças do velho mundo, e o céu acinzentado de chuva fina é uma propriedade dos outonos ingleses. Eu nasci no outono, e talvez o vento tenha me soprado um algo de depressivo. Amo a Europa, e não há nada de calor humano na Europa, sobretudo na Inglaterra. Entretanto a névoa e a chuva abrem muito espaço para o romance na loucura da cidade de Londres, e isso a torna bela e preferida pela minha alma.
Não devia te permitir que lesse isso, mas espero poder viver na certeza do aconchego de uma imagem sem espaços vazios. Talvez essa esperança seja só um capricho, quem sabe. Não me deixe só.

quarta-feira, 30 de junho de 2010

O Lupanar

Pareço um ser devasso quando falo em sexo... Tenho opiniões muito bem formadas quanto ao tema, como qualquer adolescente inteligente deveria ter, mas temo que você, caro leitor, não compartilhe das minhas opiniões. Logo, estando eu nesse momento de não-ócio que precede às provas da faculdade, e ainda assim com uma vontade incrível de causar a polêmica - pois perceba, eu escrevo senão para causar a polêmica - venho por meio do texto de Augusto dos Anjos, poeta que sempre amei sobre todas as coisas, escarrar na cara da sociedade. Não se preocupe, abaixo segue o poema, e a poesia tem a força de me fazer calar. Sinta-se brindado, caro leitor, com o poema e, sobretudo, com o meu silêncio.


O Lupanar

Ah! Por que monstruosíssimo motivo
Prenderam para sempre, nesta rede,
Dentro do ângulo diedro da parede,
A alma do homem polígamo e lascivo?!
Este lugar, moços do mundo, vêde:
É o grande bebedouro colectivo,
Onde os bandalhos, como um gado vivo,
Todas as noites, vêm matar a sede!
É o afrodístico leito do hetairismo,
A antecâmara lúbrica do abismo,
Em que é mister que o gênero humano entre,
Quando a promiscuidade aterradora
Matar a última força geradora
E comer o último óvulo do ventre!

quarta-feira, 23 de junho de 2010

It would be comic, if wasn't half tragic...

A little while ago, actually in the post just before this one, a great friend asked mo to write in English, and so I shall do! Another great friend today, who has a humor blog, also asked me to see a video in there (www.peruassassino.com is the web site), and I did it!!!
Therefore, all I can say is that this is a very singular post, in the sense that here lays the first video ever in this blog - and more remarkably the first comic video. Also, here lays an strange metaphor (extended metaphor, I shall remember from Mr. Purnell's remarks), which falls both in the fields of ludicrousness and tragedy. That the curtains are opened to the show, and that the metaphor gets started:



The video talks about the petrol stain that was left (and is still there!!!) in the ocean just a while ago - just in case you are not that smart let me highlight that "save the fish" and "approaching Louisiana" were not random phrases. What is cool is that the coffee could have being cleared up fastly and easely, by using one of their blazers to whipe it up! The same works for the petrol... There is technology out there to make up for that, however it is expensive to solve the problem, and cheaper to find guilt people. I'd also highlight that the guy could not eat the fish, and that all the laptops are probably gone... Do I have to say that the costs will be greater to us in the ocean case? I guess I don't.

quinta-feira, 17 de junho de 2010

Infância...

Caro leitor, um dia eu nasci. Parece óbvio, mas como diz meu mestre na filosofia da matemática, não é. Afinal eu poderia nunca ter nascido. Eu poderia não escrever, e nesse caso meu nascimento também não lhes teria nenhuma relevancia. Como se não tivesse nascido.
Não me importo com a história da minha infância. Aliás, me importo, mas você não se importa. Eu admiro isso. Admiro que possa me conhecer sem se perguntar: de onde veio? Admiro, porque eu não posso. Por esse motivo uma conversa comigo, tenho certeza, deva ser meio maçante... Se quer conhecer minha história se dirija a mim, não a meus textos, que paulatinamente descobrirá coisas que sequer eu sei. Acontece que, quando conheço um estranho, seja este o estranho que for, me abro como um livro.
Eu sou como um museu, com todos seus arquivos prontos para serem pesquisados. Gosto de ser assim. Transparente. Histórico. Pensante. Recursivo. O problema é que me parece que as pessoas não gostam disso. Não que álguem se importe com a transparencia alheia, mas é que a confidencia de minha vida, de certa forma, pressupõe a confidencia das outras vidas. O conhecimento é mútuo. O conhecimento é sempre uma troca. E a maioria das pessoas tendem a empurrar para baixo de seus orgãos vitais todos os fiapos de sinceridade que lhes restam. A verdade assusta as pessoas. Essa minha abordagem, necessáriamente, assusta as pessoas.
Desta forma me dou conta da minha natureza solitária. Não importa quantas pessoas estejam a minha volta, sou só. Mesmo quando converso, não converso, falo. Falo desmesuradamente, e afasto a todos que não querem falar também desmesuradamente. Ás vezes percebo, no meio de uma frase, que não estou sendo ouvido. E pior que perceber isto, é perceber que não me importo. Eu não tenho problemas em ser ignorado. Eu não falo para ser ouvido. Eu não escrevo para ser lido. Eu falo por uma necessidade pessoal em falar. Falar é um vício. Falar é uma necessidade. Falar é a única forma de apreender, e eu tenho por princípio a ciência que é a apreensão de todas as coisas a minha volta.
De uma maneira estranha, a tristeza me acomete. Não por ser só. Não por ser não-ouvido, não-lido. Não sei por quê. Talvez seja apenas por ter tanto a dizer. Tenho uma mente singular, que funciona de forma jamais vista antes. Tenho um coração de artista, uma atração pela beleza pura da vida que poucas pessoas no mundo já tiveram. Ainda assim, nada disso conta. Eu gosto de passar desapercebido, mas a perda que o mundo tem em não me perceber me dói. Não quero parecer orgulhoso - o quê pressupõe que eu pareça orgulhoso. Mesmo assim, caro leitro, lhe contemplo com essa verdade.
Se não interessar, faça como disse: não leia. Deixe-me só.

terça-feira, 15 de junho de 2010

Á Divisa da Loucura

As palavras ao vento,
as idéias no tempo -
a calmaria -
doce e leve brisa que carrega meu amor,
que lava meu rancor.

Sou poeta sim,
e louco também;
pois digo essas palavras neste momento
sem saber aonde o vento
as levará através do tempo.

Neste momento,
já sei que aprendi a amar,
já sei que a paciência é um luxo,
ao qual poucos se dão.

Já sei que um abraço é divino,
que a vida é passada a limpo,
que vivo da paz que sinto,
que morro, mas não minto.

E que isso para poucos faz sentido.

domingo, 13 de junho de 2010

LUTO

Quando morre um amigo, mesmo que tenha passado apenas dias em nossas vidas, morre uma parte de mim que foi levada junto...
Sara, tua memória vive em teus amigos... mesmo que nossa história de vida não tenha seguido junta por tanto tempo.

sexta-feira, 4 de junho de 2010

Arapuca

A morte é tão rápida a chegar!
Entretanto a vida
se demora a passar.
Demora a passar este momento,
e quando passa
foi-se meu tempo.
Veloz é para esquecer
 a memória persistente,
mas demora-se a compreender
o que se passa no presente.
Demora-se a aprender,
demora o agora do viver.
No entanto,
vão-se os anos,
vai-se o amor,
vem a pressa
e o temor.
Vem a correria
cada vez mais apertada.
Vem a falta de tempo.
Do tempo que caminha para a morte,
caminha tão rápido para a morte!
E demora a fechar meus cortes,
a curar meu coração...
A livrar-me da exaustão
e do cansaço interminável.
Do tédio,
da pressa
tão abominável!
Não tenho tempo.
Tenho pressa.
Não tenho dores,
mas tenho lágrimas.
Lágrimas que rolam
e desperdiçam esse tempo.
Tenho que ser paciente.
Minha paciência é tão preguiçosa!
E, todavia,
ela também tem pressa.
Ela também tem medo.
Tem medo de se esquecer,
medo de não haver mais tempo
para viver.
Medo de sofrer
e, porém
não aprender!

Estou imensamente feliz com meu aniversário hoje, mas não é possível deixar de pensar que o tempo está passando... Caminhando sádica e aceleradamente para a morte.

domingo, 30 de maio de 2010

Peixes fora do Aquário

Bom dia, caro leitor. Falo direto de um domingo de manhã, ensolarado, no quarto de cima dum sobrado, em um lugar qualquer do planeta. Sim, porque com todos esses fatores, qualquer lugar do planeta serve  a minha descrição.
É incrivel como aqui, em qualquer lugar do planeta, as pessoas se conheçam e se gostem aleatóriamente. Foi assim comigo, é assim com todo mundo. Um ônibus aleatório um pouco atrasado, uma ou outra idéia ingênua, e finalmente, formasse um grupo.
Depois de um tempo de conversa é denovo incrível como se tem tanto em comum com esses peixes aleatórios, nesse lugar qualquer que não uma anêmona. Aliás tomo a liberdade de mudar o ditado que uso como título, peixe fora do aquário, porque aquário não é lugar de peixe. Faz mal a cabeça. Ao contrário, somos todos peixes longe duma anêmona qualquer, em outro qualquer lugar do globo, que um dia nos ofereceu proteção. Se você for minimamente sábio, e por consequência minimamente criança, saberá a que me refiro.
Comecei a pensar nisso quando um sábio chinês... aliás japônes - que nem era tão japônes assim, nem tão sábio assim, mas estava na Liberdade - intregou um cartão de apresentação a nós, peixes. E, para nossa surpresa, o cartão guardava um segredo. Um segredo não tão mágico como é próprio das histórias de sábios chineses, mas um segredo mais ingênuo e infantil, que acredito são os melhores segredos.
Havia, atrás do cartão, um peixe, tal qual eu, fora do aquário. O desafio: por o peixe dentro do aquário, sem dobrar o cartão. Caro leitor, pegue uma folha e, por favor, desenhe um quadrado, que será o seu aquário, e um peixe logo em frente num tamanho ligeiramente menor que o aquário, e tente você mesmo. Perdoe a falta, mas não pude encontrar uma imagem na web tal qual a do meu cartão, e sequer me darei ao trabalho de fotografá-lo... isso não me traria prazer algum, e sou um hedonista.
O fato é que a solução é deveras simples, e não depende de nada além de um ponto de vista. Veja que é mais fácil dar cabo a saudade e a solidão do que você pensa. Fim da publicação.

domingo, 23 de maio de 2010

Tédio

Hoje não estou com a mínima vontade de postar nada. Você pode pensar, leitor, que sou louco... aliás vocês deve pensar isso o tempo todo, e se não pensa deveria, pois acho que tenho medo de parecer louco.
O fato é que não estou com a mínima vontade de postar nada, entretanto, quando olho para a tela, eu tenho uma vontade irresistível de deixar que vocês fiquem sabendo disso. Perdoem. A comunicação é uma necessidade minha. Uma necessidade insáciavel. Ponto.

segunda-feira, 10 de maio de 2010

Otimismo

Ver sempre o mesmo lado.
O lado bom,
isolado por si só.
O positivo nem sempre compensa o negativo,
e esse é o mau do otimismo.
Vê tudo tão bem que se isola na alma,
que só vê flores,
que tem sempre tua face calma,
mas em teu mundo horrores,
em tua alma amores,
temores;
como alguém qualquer.
Sempre o positivo...
...Exagero do otimismo...
Então tampa seus olhos
Com a venda que algum demônio criou...
...Então só vê o bem,
Se diz inocente,
Se isola do mundo...
E daí?
Será que o mundo volta à sua volta como o vê?
Ou será que ele piora.
Não para de dar voltas e reviravoltas,
Modifica sua história.
Pra que te quero?
Pálida vida infame.
Durmamos no nunca.
Veremos as flores ilusórias,
e só perceberemos os espinhos na alma.
Fugiremos deles no otimismo.
Durmamos então, enquanto o mundo volta a ser o que era antes de acordarmos!

quarta-feira, 5 de maio de 2010

Coletânea até então sem nome...

Publico abaixo uma coletânea de poesias sem nome. Agora, relendo-as, não me parece que tenham um tema em comum, mas certamente tiveram a mesma motivação, o mesmo sentimento intrínseco... Talvez tenham todas sido escritas durante uma de minhas aulas de administração, pois datam dessa época. Confesso - não tão envergonhadamente quanto devia - que muitas vezes divagava, escrevia, desenhava em lugar de fazer o que havia me proposto na escola. Entretanto ressalto que se me levara a pensar, e a urgência do escrever, a aula deveria ser deveras interessante e polêmica. Não tenho certeza, caro leitor, mas talvez e apenas talvez, essas poesias póstumamente - pois elas nasceram e já morreram há muito - nomeadas são fruto da verborréia de meus mestres de Recursos Humanos, Pedro Sérgio e José Ordine... Perdoem-me mestres por essa pequena falta da divagação, mas entendam que ela é inerente a mim, e ao meu aprendizado.

Justiça

O quê acontece
quando o déspota aparece?
quem esclarece?
Não sei mais o que extirpar,
quando o câncer
irá acabar,
o que será?
O que será
quando o tempo acabar?
O que escolher?
O que decidir?
Houve incorrência
no erro?
Houve o domínio
do medo?
Quem decapitou
o leigo?
Não se sabe
e não há tempo
para alguma apuração.
Não há tempo
para esperar
a ressurreição
ou a transformação.
Tampouco há tempo
para qualquer
reação...
CORRA!
Não há tempo
para divagação.

Sinestesia

Onde perdi
a realidade de mim?
Melhor ou pior
não faz diferença
se existe a carência
de existir.
Não há quem me veja,
quem não me comprometa,
ninguém me aceita,
ou sequer me
AGUENTA.

Tentativa e Agouro

É preciso o perfeito.
Não existe mal feito
e com efeito...
NÃO DÁ!
É preciso.
Há solidão.
Há dor.
Há pressa.
Não há solução.
Há pura exposição.
Quem poria
fim a maldição?
Quem salvaria
as pessoas
da vida,
de sua própria,
inerte condição?
Deus?
Reza e vê
no que dá!
Há focos de dor
onde a fé não há.
E consciência
divina,
não importa que exista,
não chega a salvar.
Gente,
não importa a mente,
só vive se precisar.

sexta-feira, 30 de abril de 2010

Felicidade - Cavern Club

Lendo hoje o blog de um grande amigo me deparei com uma análise filosófica da felicidade com a qual concordei, quase que plenamente. Não me leve a mal, caro leitor, sequer se abstenha de ler esse incrível trabalho! O quase é o beneficio da dúvida, e é a palavra indispensável as minhas opiniões, sempre.
O texto trata da felicidade plena, pessoal, amorosa, e também material... uma felicidade completa, total. A análise dessa felicidade, que não pode existir para ninguém, é perfeita. Contudo, não pude deixar de pensar na felicidade mais subjetiva... naquela mesmo, que sinto em um momento, e em outro se esvaí. Tratar desta ou daquela felicidade, ou chamá-la felicidade ou outra coisa qualquer, não constituí falta do meu querido amigo, ou minha; quero que entendam que falamos do mesmo sentimento, mas com prazos de validade diferentes. O objetivo do primeiro é filosófico, deve ser amplo e sempre verdadeiro, e portanto trata da felicidade completa. Já essa minha pequena divagação não traz objetivos, é superficial e mutável, e portanto trata do mesmo tipo de felicidade fútil.
A poesia que segue foi escrita no lugar que lhe dá o nome, precisamente na primeira vez que lá estive. Pude, no momento dessa poesia, experiênciar uma felicidade de viver inimaginável. Foi assim, um devaneio de criança que a brisa levou. E aí, quando saí da caverna, pude me deparar com a não-felicidade completa, e continuar a lutar para obtê-la...

Cavern Club

Já se sentiu grande?
Grande maior do que você mesmo?
Sem medo,
sem erro?
Já se sentiu viajante?
Talvez passageiro,
corpo flutuante
num rio de gelo

com destino incerto
sobre tudo liberto?
Libertino,
sem medo do destino;
livre do destino,
sem o aguilhão da necessidade.
Meu futuro é grande,
maior do que eu mesmo.
Pela primeira vez
é também leve.
Suficientemente leve
para mim
carregador feliz.

sexta-feira, 23 de abril de 2010

Dentes-de-Leão

Tenho uma vontade incontrolável de dividir algo com alguém agora, nesse momento. Contudo, não sei com quem. Temo que posso buscar no meu mais profundo eu, e ainda assim não saberei. Talvez essa pessoa para a sina sem sentido simplesmente não exista. Não me importo, ao menos não hoje, já que em uma noite normal estaria pedindo-lhe perdão, caro leitor, por parecer um louco. Talvez eu o seja. Não descarto nenhuma possibilidade. Esteja avisado: o que quero dividir é simples, mas incoerente, confesso.

Há dias em que quero morrer. Há dias em que não posso querer nada da minha vida senão a morte. Mas entenda, minha vida é maravilhosa, e a amo.
Há dias ruins na vida de todos, e há dias insuportáveis. Não me refiro a nenhum desses dias. Nos piores dias da raiva quereria talvez matar - não se assuste, é apenas um sentimento indescritível que pinto desta forma, como pintaria o amor no formato de dentes-de-leão. Os dias em que se quer matar são normais, e existem na vida de todos.
Há, entretanto, dias em que quero morrer. É um querer calmo, meio caprichoso, sabe? Uma vontade repentina e sem razão, mas persistente. Parece-se com a vontade de tomar um sorvete na praça. Parece-se com a vontade de beber água com uma colher. Parece-se com a vontade de sentar no chão a ouvir música e saborear uma taça de vinho. E como todas as outras vontades, parece ser de uma realização simples e ingênua.
É uma vontade de morrer, mas sem a gravidade que o som do duplo r traz. É uma vontade calma. E, sobretudo, não há nada de auto-destrutivo em querer morrer. Há dias em que poderia fechar os olhos e esperar que a morte me cortasse de repente. Me cortasse em minha resignação. A vida plena é uma eutanásia prolongada.
Nesses dias, nesses dias em que quero morrer, me sinto completo. Não há um viver mais intenso que aquele que caminha para morte. Não há um viver mais puro que aquele que espera, passivamente, o fim das coisas. O movimento mais natural da vida é o de uma árvore.
Árvores nunca morrem, não verdadeiramente. Elas dão lugar a outras árvores. A queda é inerente a vida latente das árvores. Ainda assim, elas não a apressam, nem se angustiam devido ao fim inevitável. As árvores apenas sentam-se, acomodam-se, crescem, frutificam, e aguardam, passivamente, o fim das coisas. E nunca morrem.

segunda-feira, 19 de abril de 2010

Não há morte verdadeira....

"Descansem o meu leito solitário. Na floresta dos homens esquecida,. À sombra de uma cruz , e escrevam nela: - Foi poeta, sonhou e amou na vida." Alvárez de Azevedo


A Lei para os Lobos - Rudyard Kipling

Já publiquei esse texto aqui, no original "The Law for the Wolves". Embora tenha continuado a busca pelo poema na integra, em português, não fui capaz de encontrá-lo, portanto faço aqui uma traduçao livre. Se alguém já leu O Livro da Selva do Kipling certamente conhecerá o conteúdo, mesmo que as palavras sejam diferentes. Esse poema infantil fala muito de mim, muito do meu engajamento político não engajado, muito das minhas ações e do meu amor pela natureza. Espero que me entendam... e pretendo falar sobre isso mais adiante.

A Lei para os Lobos
Rudyard Kipling (1865–1936)

Eis a lei da selva, tão antiga e verdadeira quanto o céu,
O lobo que a mantiver pode prosperar, mas o lobo que a quebrar deve morrer.

Como a trepadeira que cerca o tronco da árvore, a lei tem uma única medida;
A força da alcatéia é o lobo, e a força do lobo é a alcatéia.

Lave-se diáriamente da ponta do focinho a ponta da calda; beba profundamente, mas nunca demais;
E se lembre que a noite é para caçar e não se esqueça que o dia é para dormir.


O chacal pode seguir o tigre, mas, filhote, quando seus bigodes forem crescidos,
Lembre-se que o lobo é um caçador - vá na frente e pegue sua própria comida.

Mantenha a paz dentre os senhores da selva, o tigre, a pantera, o urso;
E não perturbe Hathi, o Silencioso, e não perturbe o javali em seu ninho.


Quando alcatéia encontra alcatéia na selva, e nenhum dos bandos saí do caminho,
Abaixe-se até que os líderes falem; podem ser palavras justas e devem prevalecer.

Quando lutar com um lobo do grupo você deve lutar só e justamente,
Deixe outros tomarem parte na luta e a alcatéia se extingue pela guerra.

O ninho do lobo é seu refúgio, e onde ele fez seu lar,
Nem mesmo o Grão-Lobo pode entrar, nem mesmo o conselho pode vir.

O ninho do lobo é seu refúgio, mas onde ele o cavou desprotegido,
O conselho deve enviár-lhe uma mensagem, e então ele deve mudá-lo novamente.

Se matar antes da meia-noite seja silencioso e não acorde a floresta com seu uivo,
Se espantar os veados do mato seus irmãos ficam sem caça.

Podem matar para si mesmos, e suas companheiras, e seus filhotes como eles necessitam,
Mas não mate pelo prazer da matança, e sete vezes nunca mate um homem.

Se pilhar sua caça de um fraco, não devore tudo em sua honra,
O Direito da Alcatéia é o direito do inferior; então deixe-lhe a cabeça e a carcaça.

A caça da alcatéia é a carne da alcatéia. Você deve comer onde ela caí;
E ninguém deve carregar dessa carne ao seu ninho, ou ele morre.

A caça do lobo é a carne do lobo. Ele pode fazer o que entender,
Mas, até que ele dê permissão, a alcatéia não come daquela caça.

O Direito do Ninho é o direito da mãe. Durante todos seus anos ela pode reclamá-lo
Um pedaço de cada caça para sua ninhada, e ninguém pode negá-la isso.

O Direito do Filhote é o direito dos pequenos. De toda a alcatéia ele pode reclamá-lo
Gozo da caça quando o caçador tiver comido; e ninguém pode negar-lhe isso.

O Direito da Caverna é o direito do pai, de caçar para ele mesmo e só;
Ele é livre de qualquer chamado da alcatéia. Ele é julgado pelo conselho a sós.

Por conta de sua idade e sua astúcia, por conta de seu domínio e de sua pata,
Em tudo que a lei deixa em aberto a palavra do Grão-Lobo é lei.

Agora estas são as leis da selva, e muitas e poderosas elas são;
Mas a cabeça e o topo da lei e sua diretriz e estrutura é - Obedeça!

quinta-feira, 15 de abril de 2010

Tese e Antítese

Embora as duas poesias tenham sido escritas separadamente, elas fazem muito mais sentido juntas. Então, decidi colocá-las em uma única postagem.

ANTÍTESE


Uma briga
sempre é bom.
Egoísmo faz o mundo andar.
O conflito é sempre,
sempre continuo,
simplesmente impossível
de parar.
Uma queda é necessária,
o negativo
nunca pára,
n’algum momento
tudo acaba.
Enquanto a vida
se agita,
outro rumo o futuro
leva.
E quando a dor
termina
a renovação
sempre começa,
nunca espera.
E se a morte;
e se a briga;
e se o orgulho
(é sempre tudo tão traumático)
não ocorre n’algum
momento,
nunca se descansa
e não há tempo
de rever
tudo o que é conceito...

TESE

O conflito sempre acaba,
e resta a vida desvairada!
Tão calma!
Organizada.
Estagnada!
É tão bom viver assim:
tão perfeito,
tão sem fim!
Nada pode fazer mal,
o mundo não é mais fatal,
o poder não é ideal.
A paz é tão prezada!
A calma chega a ser descontrolada,
não há progresso.
Por que me transformar?
Não há porque lutar.
Tudo é de graça,
nada falta!
Todos fazem o que sabem, o que querem o que gostam...
O conflito é eminente.
O caos está, de novo, presente,
e a perfeição,
tão imperfeita,
mostra-se incoerente.
Vazia.
Aqui,
onde tudo é perfeito,
é inconcebível
qualquer grande feito,
qualquer grande orgulho,
qualquer defeito.
E o que será feito?
Nada.
Acaba o tempo.
O tempo da eternidade se esgota,
porque
Deus não é extremo,
porque nem Deus,
se dá ao luxo
de ser perfeito.

segunda-feira, 12 de abril de 2010

Hora do Chá

Está frio.
Não posso sentir meus dedos,
não posso sentir minha calma.
O frio me invade a alma,
congela.
Não tenho raiva,
não tenho lágrimas,
não tenho nada.
Tenho, talvez, a apatia.
O balançar de cabeça educado,
o olhar e o sorriso apagado,
necessário,
ao murmurar, incondicionalmente:
obrigado, obrigado!
Qual a razão para tanta gratidão
sem coração?
Para tanta farta, fria e falsa
educação?
Está frio.
Ligue a calefação,
Esqueça nossa relação.
Põe as máquinas para funcionar!
O vapor tem
que continuar,
mais carvão para água
borbulhar.
Isso.Já está bem melhor.
Contudo,
sabe que ainda tenho frio?

Um de alguns dos meus poemas escritos na (e em homenagem a) Inglaterra.

Sobre Hedonismo e Podridão

Primeiramente, me perdoem por ser anti-poético no título. É inevitável transparecer a beleza inerente ao que é repugnante ao escrever minhas poesias, e minha atual leitura (presente e recomendação de minha comparsa, Yndiara) não me deixa escapar ao tom melancólico de Baudelaire.
Trivialidades à parte, vamos ao texto propriamente dito, e portanto as motivações deste. A prosa, ao contrário da poesia que pode se ausentar de qualquer sentido afora a beleza, precisa de um motivo, de uma justificativa. A justificativa deste pequeno pedaço de prosa é explicar o título desse blog.
Primeiro gostaria de fazer uma confissão embaraçosa: não pensei no título deste pedaço de minha alma antes de nomeá-lo. Nunca o faço. Nomeei este blog como quem nomeia uma poesia... fechei os olhos e pesquei uma imagem das profundezas do meu baço moribundo, e, sem sequer saber a que esta imagem remetia, pintei-a. Eu sou uma ferramenta que faz beleza através de pura ignorância, entretanto desaprovo-a e jamais quereria que ela estende-se seus braços citoplasmáticos até vocês, leitores.
Hedonismo é muitas vezes tratado como um sinônimo de orgulho, ou egoísmo. Mas não sejamos assim, superfíciais. O hedonismo vem do grego hedonê (tenho um amigo filósofo que pode sustentar isso) e traduz diretamente para prazer, assim nomeia uma linha de pensamento filosófico que põe o prazer como supremo bem, ou ainda que mede as ações humanas não através da ética, ou dos efeitos por elas produzidos, mas sim atravéz do seu potencial de gerar prazer ou dor.
Sou contrário a tudo que gere a dor, ou ainda o desprazer. Entretanto confesso que o sentido de prazer é discutível! Não sei qual o padrão que a palavra segue nos textos acadêmicos, e sequer tenho a pretensão de saber - veja minha ignorancia aflorando novamente, por favor não sigam meu exemplo -, mas um prazer supremo necessita também do prazer do outro. Aliás, doS outroS, pois quando falo em prazer não me refiro apenas ao sexual, mas a sensação que tenho quando brinco com meu cão, quando almoço em família, ou saboreio uma taça de vinho. Prazer gera prazer. Desconforto gera desconforto.
O hedonismo é maravilhoso quando compartilhado. Entretanto a idéia do prazer próprio sobrepujando o prazer de toda uma comunidade, ou de uma outra pessoa sequer, é nojenta. Me perdoem a falta em não citar o estupro, a pedofília, a psicopatia e todas essas anormalidades. Não entendo delas, e ao menos nesse meu território as expurgarei. Se quiser ler ou ouvir sobre isso e sentir-se indignado, por favor retire-se desse blog e vá até algum portal de notícias, ou ligue seu televisor. O meu argumento limitar-se-á ao entendimento do prazer que nos remete ao pecado, a danação, a auto-culpa. Esse prazer sim, é fétido, é putrido, e é egoísta.
Longe de fazer mal a alguém, este blog é sim egoísta. E dá-me um prazer insáciavel.

Prometo que não me perdoarei novamente por nada, embora esteja tentado a fazê-lo. Minha escrita é repleta de condolências e inseguranças porque ela não me agrada. É uma coisa pessoal.
Em tempo, se você pode tirar alguma conclusão desse texto, ignore-a. Se há algo que repudio mais que a ignorância é a conclusão. Nada termina. Nada que é belo, ou minimamente inteligente deveria terminar. Apenas leia se lhe interessar, e minha idéia será infinita.

sexta-feira, 9 de abril de 2010

Coração

Nada existe.
Nunca nada existe,
pois sou triste,
e na tristeza
não há certeza.

A única certeza é a morte.
Certeza sem hora,
sem solução.
A única certeza é a derrota,
o fim, a desilusão.

Poema dedicado a todas as almas que habitam o mau, e que portanto precisam de toda nossa compaixão.

quarta-feira, 7 de abril de 2010

Encruzilhada

Chego ao cruzamento.
Não sei se fico na rua
ou sigo o brilho da lua.
De alma nua,
fecho os olhos.
LUA.
É irresponsável, mas instintivo
permitir que o destino,
no qual sequer acredito,
escolha meu caminho.

Poesia escrita, pela primeira vez em toda minha vida, nessa máquina, informatizada, de datilografia.

terça-feira, 6 de abril de 2010

Cidade (Paris)

Divórcio

Trago a fé escondida
dentro do peito,
a discórdia na mente
e penso
que por isso escondo,
porque penso.
Escondo porque penso
ao invés de sentir.
Pela falta de senso
da minha psiquê
não mais casada,
divorciada de cúpido,
que mantém seu pedido
de continuar
a ignorar o que não existe.
O aborto instantâneo
que insiste,
subcutâneo,
oculto.
Se cúpido ignorasse
aprenderia,
e poderia se despreocupar,
e iria,
viveria,
e "ria",
e "ria",
e "ria",
mas não irá.

Selva

Por quê há uma certa insistência da humanidade em dizer que somos assim, tão diferentes?


* Imagem da internet

The Law for the Wolves

Infelizmente o texto está em inglês, do original do Livro da Selva, do mesmo criador do Mogli, o menino lobo. Amo lobos, e acho que temos muito a aprender com o seu comportamento em sociedade. Kipling traduz o código de conduta dessa espécie fascinante em um poema infantil, que ensina honra. Perdoem por não tê-lo traduzido, mas seria impossível manter a musicalidade, e nunca encontrei uma versão traduzida na integra, apesar da busca na internet.



The Law for the Wolves
Rudyard Kipling (1865–1936)


NOW this is the law of the jungle, as old and as true as the sky,

And the wolf that shall keep it may prosper, but the wolf that shall break it must die.

As the creeper that girdles the tree trunk, the law runneth forward and back;
For the strength of the pack is the wolf, and the strength of the wolf is the pack.

Wash daily from nose tip to tail tip; drink deeply, but never too deep;
And remember the night is for hunting and forget not the day is for sleep.

The jackal may follow the tiger, but, cub, when thy whiskers are grown,
Remember the wolf is a hunter—go forth and get food of thy own.

Keep peace with the lords of the jungle, the tiger, the panther, the bear;
And trouble not Hathi the Silent, and mock not the boar in his lair.

When pack meets with pack in the jungle, and neither will go from the trail,
Lie down till the leaders have spoken; it may be fair words shall prevail.

When ye fight with a wolf of the pack ye must fight him alone and afar,
Lest others take part in the quarrel and the pack is diminished by war.

The lair of the wolf is his refuge, and where he has made him his home,
Not even the head wolf may enter, not even the council may come.

The lair of the wolf is his refuge, but where he has digged it too plain,
The council shall send him a message, and so he shall change it again.

If ye kill before midnight be silent and wake not the woods with your bay,
Lest ye frighten the deer from the crop and thy brothers go empty away.

Ye may kill for yourselves, and your mates, and your cubs as they need and ye can;
But kill not for pleasure of killing, and seven times never kill man.

If ye plunder his kill from a weaker, devour not all in thy pride,
Pack-right is the right of the meanest; so leave him the head and the hide.

The kill of the pack is the meat of the pack. Ye must eat where it lies;
And no one may carry away of that meat to his lair, or he dies.

The kill of the wolf is the meat of the wolf. He may do what he will,
But, till he is given permission, the pack may not eat of that kill.

Lair right is the right of the mother. From all of her years she may claim
One haunch of each kill for her litter, and none may deny her the same.

Cub right is the right of the yearling. From all of his pack he may claim
Full gorge when the killer has eaten; and none may refuse him the same.

Cave right is the right of the father, to hunt by himself for his own;
He is freed from all calls to the pack. He is judged by the council alone.

Because of his age and his cunning, because of his gripe and his paw,
In all that the law leaveth open the word of the head wolf is law.

Now these are the laws of the jungle, and many and mighty are they;
But the head and the hoof of the law and the haunch and the hump is—Obey!

sexta-feira, 2 de abril de 2010

quinta-feira, 1 de abril de 2010

Poesia de Espontânea

Há uma brincadeira em comunidades de poesia muito simples e interessante, na qual um jogador deve escrever um poema sobre uma palavra, coisa ou idéia anteriormente sugerida, e então sugerir a sua própria para dar conitnuidade. Segue abaixo dois pequenos poemas meus escritos desta forma, na comunidade Encontros de Poesia... A quem se interessar pela poesia a comunidade é repleta de bons escritores, todos muito atenciosos.

Lembranças

Lembrança,
que me arranha,
me escalda, me encanta.
Vêm em forma de trança,
de sucessão de fatos,
de dor, de abraços.
Nada de bom,
Nada de mal...
Apenas lembranças
d'um passado banal,
d'um momento vital,
d'um, inexistente, futuro ideal.
Não importa que venha
ou que se esqueça,
o passado é sempre irreal.
Incorrigível, maldito, FATAL.

Sussurros

Sussurros, ruídos, URROS!
Gritos de minha alma
sussurrante, errante,
sem calma...
Sussurros me invadem
me mordem por dentro
me tomam por pajem,
aprendiz,
iniciante, ignorante...
Meus sussurros sao caníbais,
sorrateíros, fatais.
Meus sussurros me matam
me enlouquecem
me viram a cabeça...
Meus sussurros, dentados
me arrancam pedaços
das entranhas,
estranhas,
que gritam, contorcem
sangram, e MORREM.

Vida

Prefácio - O Retrato de Dorian Gray

Estou relendo O Retrato de Dorian Gray do Oscar Wilde, e acho o prefácio extremamente pertinente para quem pensa sobre a arte, e o que ela é. Concordo plenamente com Wilde quando ele diz que a arte deve ser bela e inútil. Segue o texto na íntegra:

Prefácio

O artista é o criador de coisas belas.
Revelar a arte e ocultar o artista é a finalidade da arte.
O crítico é aquele que pode traduzir, de um modo diferente ou por um novo processo, a sua impressão das coisas belas.
A mais elevada, como a mais baixa, das formas de crítica é uma espécie de autobiografia.
Os que encontram significações feias em coisas belas são corruptos sem ser encantadores. Isso é um defeito.
Os que encontram belas significações em coisas belas são cultos. Para estes há esperança.
Existem os eleitos, para os quais as coisas belas significam unicamente Beleza.
Um livro não é, de modo algum, moral ou imoral. Os livros são bem ou mal escritos. Eis tudo.
A aversão do século XIX ao Realismo é a cólera de Calibã por ver seu rosto num espelho.
A aversão do século XIX ao Romantismo é a cólera de Calibã por não ver o seu próprio rosto num espelho.
A vida moral do homem faz parte do tema para o artista, mas a moralidade da arte consiste no uso perfeito de um meio imperfeito. O artista nada deseja provar. Até as coisas verdadeiras podem ser provadas.
Nenhum artista tem simpátias éticas. A simpatia ética num artista constitui um maneirismo de estilo imperdoável.
O artista jamais é mórbido. O artista tudo pode exprimir.
Pensamento e linguagem são para o artista instrumentos de uma arte.
Vício e virtude são para o artista materiais para uma arte.
Do ponto de vista da forma, o modelo de todas as artes é a do músico. Do ponto de vista do sentimento, é a profissão do ator.
Toda arte é, ao mesmo tempo, superfície e símbolo. Os que buscam sob a superfície fazem-no por seu próprio risco.
Os que procuram decifrar o símbolo correm também seu próprio risco.
Na realidade, a arte reflete o espectador e não a vida.
A divergência de opiniões sobre um obra de arte indica que a obra é nova, complexa e vital.
Quando os críticos divergem, o artista está de acordo consigo mesmo.
Podemos perdoar a um homem por haver feito uma coisa útil, contanto que não a admire. A única desculpa de haver feito uma coisa inútil é admirá-la intensamente.
Toda arte é completamente inútil.

quarta-feira, 31 de março de 2010

O Diabo

De repente pode não interessar, mas tenho este texto que escrevi para uma grande amiga sobre o significado da carta do Diabo no tarot e, por que não, do ícone do diabo na cristandade... Tenho pouca prosa, e pouquíssima prosa de qualidade, mas espero que gostem...

O Pobre Diabo

Há algum tempo atrás existia uma jovem que morava só numa pequena casa, vizinha de uma campina. Como era solitária passeava pela campina durante o entardecer, colhia flores e voltava para casa.
Até que um dia durante seu passeio rotineiro deparou-se com um bode, nunca vira por lá semelhante figura; de cor negra e olhos amarelos parecia estar bem atento à presença alheia. A jovem teve medo e tentou vagarosamente se afastar do animal que sem nenhuma cerimônia deu-lhe as costas e se foi. Ela continuou com medo, porém, fascinada com o estranho ato do bode, e curiosa sobre sua origem, o seguiu.  Depois de muito andar criou coragem para a aproximação, notou vários machucados por todo o corpo da besta, compadeceu-se e levou o pobre bode para casa. Tratou-o, alimentou-o e tomou-o como amigo.
Deixou de dar seus passeios, pois agora tinha a companhia de um ser vivo, passou a dividir seus segredos com ele. Como era um animal contou-lhe também seus maiores desejos, seus pensamentos mais indecentes, vergonhosos e mesquinhos, deixou de se sentir triste e diferente.
Apesar de ter externado pensamentos horríveis e animalescos se sentia agora despida deles, pura e serena, não era mais sufocada pela ânsia da fala ou pela imoralidade do inconsciente.
O Bode desde então deixou de ser um simples amigo para ser um instrumento de limpeza, quem tomava a culpa por todas as dores de sua dona para curá-la.
A horrenda besta malévola que outrora encontrara, agora era o essencial para o bem estar, mas nunca foi mais do que nasceu para ser: um animal; selvagem, impuro, perigoso, fascinante e divino.