O fato é que ontem chovia fina e insistentemente. Eu usava uma calça comum, duas blusas e um boné, carregava uma mochila cheia e tensionava os músculos, cada um deles, na busca de um calor humano, de mim para mim mesmo. Como qualquer pessoa normal, nessas condições de roupas molhadas e tardes cinzas, eu talvez devesse sentir-me triste. Não me senti triste. Senti-me feliz. Aliás, sempre sinto um quê de romance que vem com o frio.

Do espaço vazio no meu abraço inexistente têm-se a impressão que um dia ali existirá alguém. O calor só existe em sua importância e plenitude onde não há calor algum. O frio pressupõe a possibilidade do calor. E esse sentimento de imagens paradas em alguns segundos que não se vão me remetem a Europa. Me remetem talvez pela distância e pela falta que sentia do Brasil. A arquitetura da Luz é muito propícia também às lembranças do velho mundo, e o céu acinzentado de chuva fina é uma propriedade dos outonos ingleses. Eu nasci no outono, e talvez o vento tenha me soprado um algo de depressivo. Amo a Europa, e não há nada de calor humano na Europa, sobretudo na Inglaterra. Entretanto a névoa e a chuva abrem muito espaço para o romance na loucura da cidade de Londres, e isso a torna bela e preferida pela minha alma.
Não devia te permitir que lesse isso, mas espero poder viver na certeza do aconchego de uma imagem sem espaços vazios. Talvez essa esperança seja só um capricho, quem sabe. Não me deixe só.
Nenhum comentário:
Postar um comentário