segunda-feira, 1 de dezembro de 2014

Ogum e Egun

Somos fortalezas de ferro
de ferro de pedra de aço e de dor.
Somos fortalezas de ferro
e de desejo.
Somos fortalezas de ferro
e de inveja das fortalezas ingênuas
que são só carne e amor.


domingo, 23 de novembro de 2014



É feio se apropriar do que os outros escrevem
é meio feio enfiar a cabeça naquele buraco dos bonecos de papelão nos parques
fingir que aquela imagem toda é sua,
que aquele texto é pra você.

Mas espero que seja =)


domingo, 16 de novembro de 2014

Desorganizado.

Lavar os pratos
Acertar a lombada dos livros na prateleiras
Limpar o terrário
Remodelar o aquário
Por a mesa
Varrer o chão

Ninguém nunca vai me amar
enquanto não tiver tudo no lugar.

Bagunça

domingo, 9 de novembro de 2014

...


Me deixa quieto um pouco.
Não fala,
não olha
não cutuca,
não respira.
Se me conhecesse
nada disso me
incomodaria.


domingo, 26 de outubro de 2014

O Amor,

por onde anda o amor
depois de uma taça de vinho,
de uma falta de carinho e
de um gole de rancor?


quinta-feira, 23 de outubro de 2014

Só pra marcar o momento

que não vai ter choro nem reflexão
nem vai ser especial, ou libertador.

é só pra lembrar que eu to jogando fora essa coisa que sobrou.





Drops. Suco de Laranja.


Em uma nota a parte: papel fotográfico é difícil de rasgar na mão.

quinta-feira, 16 de outubro de 2014

escuto os pássaros

abro a janela
empurro a veneziana com o pé
sequer saio de debaixo do edredom.

torno a fechar os olhos
sinto a luz na minha pele.

prefiro dormir sem roupas
e sem cordas.

faço o que me apetece
digo o que me convém.

presto atenção a cada imagem.

bebo vinho e café.

não corto mais
nem o cabelo
nem a barba
nem as calorias:
aceito tudo a maneira que há de vir.

desenho organizo, pergunto
jogo os pesos para o alto
e ensino.

Faço assim minha revolução silenciosa.
Muda-se mais o mundo sem tocá-lo aos berros.


sexta-feira, 19 de setembro de 2014

Fígaro





Não estou mais cortando
meu cabelo
nem a barba
nem os pelos
nem a mágoa
Só as asas

Essas eu aparo diariamente.


quarta-feira, 17 de setembro de 2014


Meu coração é uma bolha de pus e sangue e secreções das mais doloridas e infeccionadas

purgando, purgando, purgando


sexta-feira, 12 de setembro de 2014

em pêlo

pelado
deitado
encarando
o teto
é meu feito
com efeito
a todo momento
de tempo livre
que não tenho.

Quando que a espera pelo nada vai acabar?


segunda-feira, 1 de setembro de 2014

e na madrugada

chegaram meus documentos:

A insônia e a solidão são oficiais.


domingo, 31 de agosto de 2014

sábado, 30 de agosto de 2014

De Ressaca

* fechou os olhos e construiu o diálogo mentalmente *
- Me dá uma segunda chance?
- Você tem certeza? - perguntava naquele tom mais-que-familiar.
- Tenho.
- Igual tinha da última vez? - perguntava num outro tom que nunca tinha usado com ele: grosseiro, áspero e com gosto de ferrugem; um tom que só essa ilusão mental dele mesmo usaria, mas que não correspondia a realidade de sua amiga.
- Eu não tinha certeza da última vez.


AH! A dificuldade de admitir. Eu não tinha certeza da última vez.

Foi tudo como o mar de uma praia de tombo. Eram as águas perfeitas, convidativas. Por dias e dias molharam-se nossos pés pela maré, afundando no lodo da margem. Depois a canela, os joelhos. E TOMBO. Dá pra morrer afogado de amor? Corri até a areia. Revisitar a terra firme e dar outra chance ao sol escaldante. Sol queima, cansa, pesa nos olhos e na cabeça.

- Você é um lírico exagerado, cara.
- Ah, cala a boca. Você é igual. Você sou eu.

Meu medo é que seja só uma vontade; só um teco de carência. Meu medo maior é que seja artifício do córtex frontal calculando seu 2 + 2 social e ditando: casal. Perfeito. Mas outra parte qualquer de tecido nervoso, talvez o nódulo sinoatrial, manda pulsos descontrolados por todo lado pedindo mais, mais, mais. Qual a chance de acertar a velocidade e o compasso se tiver uma segunda vez?

Sobre o destino: acreditei por muito tempo que foi tudo sempre fruto do destino, mas agora parando para pensar... Eu que escolhi O Retrato. Eu que escrevi um verso em cada página do livro, eu que tramei a coisa toda. Eu que tentei uma segunda vez, eu que busquei os anéis e os mandei gravar. Eu construí cada bloco de felicidade onde me refugiei, mesmo que quando inapropriada.
Percebo que quero construir mais uma vez. Porque não? Ou é loucura? No meio dessa confusão o melhor é deixar quieto... Machucar alguém mais uma vez para que?

- Cara, você não foi legal com ela.
- É, eu não fui.

Como que realmente se sentiu? Como que quem estava do meu lado realmente se sentiu naquele dia? Me amava? É justo eu perguntar se amava? Ama? Foi de verdade?

Hoje andando ao lado dos carros estacionados no caminho pra casa cheguei a pensar que estava pronto. Pronto. Uma bagunça pronta pra quê? É uma conclusão risível e irreal. É preciso estar pronto pra qualquer coisa que o valha nessa vida?

Ela não tem os olhos de cigana obliqua e dissimulada, mas tem um gênio... Ah! Um gênio de ressaca.


quinta-feira, 14 de agosto de 2014

Monster in the Closet

I'm the abomination.
Today it is me, the monster's salvation
that never comes as it should.
As for now I cry,
as you would,
but have no tears, I...
I have no tears to try.
I'm the real abomination.
I don't even feel what you might.
Don't even recognize your fight.
It is your struggle, baby,
not mine,
not this time.
I told ya,
I'm the abomination.

quarta-feira, 13 de agosto de 2014

CANSADO

D E

T U D O

O U

N A D A,

D O

T U D O

E

N A D A.


domingo, 27 de julho de 2014

NEEDLE

Perdido na selva de espinhos
me perguntando se isso
é carinho ou amor
é raiva ou rancor
é tédio ou só dor.


sábado, 26 de julho de 2014

Dark matter

Faith is the strong believe that anyone who made you suffer is going to suffer in double, even though you are not working for it and may never come to know of such suffering.

- by a lost soul

sábado, 19 de julho de 2014

Demi sec

Sabe...

Eu quero alguém que não me ache estúpido por todas as coisas que já fiz por uma mulher.
Eu quero alguém que dê uma chance ao estranho,
ao colorido preto-e-branco, e ao balanço
da minha música surda deslocada;
e também àquele balanço
pendurado na árvore que caiu com um raio.

Eu quero alguém que capture minha imagem com a pupila
como se fosse o diafragma de uma Polaroid antiga.
Quero alguém que acredite em segundas-chances e que não as jogue fora;
alguém que saiba recompensar um tempo perdido, ou um tempo esperado,
com um batimento cardíaco acelerado
verdadeira e profundamente apaixonado.

A meia-noite, que falta que uma taça de vinho não faz.


quarta-feira, 16 de julho de 2014

Baques

#1

Quero ser assaltado.
Quero ser morto.
Quero ser machucado.
Quero pular de um prédio,
me esfolar no asfalto.
Quero ser apedrejado,
atropelado,
mas não queimado.
Quero um fim sujo,
uma vingança sangrenta.
Quero que meu eu sofra,
agonize e morra.
Quero tanto, mas não posso.
Quero
a dor,
a dor,
a dor,
ardor,
o insuportável,
e o alívio
como se nada tivesse acontecido,
mas não posso.

Da minha lista de presentes,
a inconsciência é o mais caro.

#2

Já era adulto
e talvez por isso ele
que quando criança sabia tanto se expressar
contorcia a fisionomia,
mas não tinha mais ganas de chorar.
Pescava lágrimas do fundo do seu ventrículo direito
e talvez por isso não fisgava nada
além de uma falta de ar.
Não há alma, apenas um corpo
bobo, troncho, morno,
incapaz de uma alegoria que valha a pena
ou de uma rima complexa que seja.

#3

Já tomei café por prazer
mas hoje é café por necessidade.
É máscara de vontade
em uma fisionomia que já morreu,
num rosto que não é mais o meu.


Relevos

Não, você não conhece a morte do fundo da depressão. Todo depressivo acha que conhece a morte, mas a verdade é que a morte é um vício. Um vício de quem não sabe ficar sozinho, porque sempre há algo na vigília.

Há no pico da morte um medo estranho unido de uma vontade de deixar os pés balançando na janela e bater a cabeça na parede até que o que eu sou, cada traço da minha fisionomia primata, seja tecido sanguinolento disforme e homogêneo. Estar perto da morte é uma vontade de se destruir calma e paulatinamente; vontade essa que não causa alarme ou estranhamento, mas auto-consciência.

A morte não gosta de quem gosta dela e, por ironia, segue-se caminhando meio-vivo- meio-morto. O lado esquerdo está morto, e aos mortos não se invoca. Na depressão alguém talvez seja perseguido pela morte, incapaz de encará-la de frente visto que está em seu encalço. Os poetas, ao contrário, se contorcem desfiguradamente em direção a morte até que percam toda a esperança em extrair beleza da vida.

A vida é uma merda. A vida como a conhecemos é uma merda.O sentido da realidade é frágil e ele escapa entre meus dedos como minúsculos cacos de um espelho: refletindo minha alma frágil e fragmentada até o fim do abismo.

Quintilha branca insensata

Você não me ama,
não gosta daquilo que eu faço.
Você só gosta daquilo que falo,
mas falar, meu amor,
pra qualquer um é fácil.


quinta-feira, 24 de abril de 2014

Sentidos

Não há música no mundo que me defina.
Sou um quebra-cabeça sem peças,
uma figura preta, em branco,
um tangram de peças burlescas
de formas sem formulas reais que as descreva.
Meio que como um enigma,
cuja resposta não existe
nem sequer faz sentido,
eu sigo.
Não tem outro jeito
senão morrer sozinho.


sábado, 12 de abril de 2014

Sobre Trens


23 de Fevereiro de 2014
17h15 - CPTM



Um retrato do que de fato é o Brasil está nos trens.
Capitalismo acirrado de produtos de má qualidade, serviços que põe o usuário em situação de desconforto, cargas roubadas, opressão.
Situação: três vendedores ambulantes entram, um após o outro no mesmo trem lotado.; todos compram algo, todas as vezes.
São trabalhadores, estudantes, idosos. São idosos daqueles amantes do capitalismo e da política de direita, daqueles que batem cartão no noticiário das oito para reclamar do transporte, dos serviços, dos salários, das pensões, das qualidades daquilo que compram. São daqueles que culpam um rubro comunismo e as idéias anti conservadoras pelos problemas do capitalismo e de seu próprio conservadorismo exacerbado. Culpam e reclamam, sequer percebendo que fazem parte e alimentam esse micro-sistema perverso que são as vendas clandestinas nos trens da CPTM de bom grado.
Ao meu ado, sentado no chão, há um jovem com uma tatuagem de um saco de dinheiro. Como ele tenho em mim marcado aquilo que considero importante. Ao contrário dele, desejaria não participar dessa máquina, ser menos Homo sapiens.
Não vejo mal em querer ser abastado. Não vejo mal em desejar posses, em almejar o luxo, em satisfazer o bem estar, por vezes - uma barra de chocolate - tão ingênuo. Sequer vejo mal em querer todo esse capitalismo. Não me agrada a vivência humana, mas essa ainda pode ser perdoada. Me enoja a fealdade dessa alegoria realista. Eis o que me enoja: a consciência.

segunda-feira, 24 de fevereiro de 2014

Uma hora a gente aprende

Uma hora a gente aprende que há coisas que não se concerta.
Uma hora a gente aprende que certas dores são incorrigíveis, que certas lembranças não se deixa de lado, que certas felicidades não fazem milagres.
Uma hora a gente aprende que não tem muito porque tentar, que estar ao lado é o melhor que se pode fazer, que se afastar as vezes é bom.
Uma hora tudo gira em trezentos e sessenta graus e parece que é tão simples, e que tudo que se fez foi tão vão, tão ruim.
Uma hora a gente percebe que não há humano senhor do tempo, dono do seu destino.
Uma hora a gente aprende que reina o caos e que a realidade e a calma se seguem apenas de visões irreais.
Uma hora a gente aprende que viver na irrealidade não é um problema e que o normal é ser avoado.
Uma hora, cedo ou tarde, algo acontece e a gente aprende que não pode resolver todos os problemas do mundo com a gentileza.
Uma hora a gente aprende que o amor nem sempre é o suficiente, e logo depois repara e percebe que e daí se não é o suficiente? O amor é o que a gente tem.
Uma hora a gente aprende o que realmente importa, e segue amando.
Sente e caminha.

terça-feira, 18 de fevereiro de 2014

Pão de Queijo

Descrevia amor como dentes-de-leão, sementes aladas, brancas, macias. Descrevia amor como paz que cresce na Terra e se desfaz na tempestade pra florescer na primavera. Descrevia o amor como conhecia o amor, como se apresentava. Estranho que em sua cabeça o amor era físico, tangível, eterno. Estranho que em sua cabeça era como conto-de-fadas, muito mais distante da descrição precisa de dentes-de-leão.
Precisa pela mutabilidade. Precisa pela curva adrupta, repentina, pelo fim inesperado. Precisa porquê de todas as sementes as vezes nenhuma brota. Precisa porquê de todas as sementes a que brota as vezes é maldita.
Descrevia o amor mais próximo da realidade do que o sentia, até que o viu real como descrevia.
Pois, amor não vem em forma de planta viva que cresce e reproduz para ser eterna. Amor não vem em forma de viajante da brisa, não vem de passagem. Amor vem de onde menos se espera. Amor vem quente, e é consumido quente... Amor carece de ser requentado dia a dia, cozido a fogo lento. Amor carece de surpresa. E sobretudo, amor é porto-seguro, não soprado pelo vento.
De repente tem gosto de tarde chuvosa, de sono nos lençóis, de café com leite batido. De repente o amor não é eterno, mas é breve todos os dias com o mesmo sabor, quiçá da mesma pessoa.

sábado, 15 de fevereiro de 2014

RATOS



Aquela sensação de não querer nada, de não ter razão para nada, alegria em nada. Nada. Fecha os olhos e vem a mente nada. Nada não, vem sala quadrada de cantos escuros. Dentro dela um rato translucido de cauda grossa, sem pelos, semi-transparente com cérebro e veias amostra.
O melhor que qualquer ser humano pode fazer para o mundo é morrer.
Não quero morrer, mas quereria, as vezes, talvez me matar. Me infringir a dor da morte por sofrer pouco, por saber pouco, por merecer ainda menos. Me sinto uma merda, uma coisa inútil e quebrada; e por sentir isso e deixar que as pessoas vejam isso sinto-me ainda pior. Um estorvo.
Rato semi-transparente vetor de pragas e de injúrias, cujo único expurgo é a morte. Morte de fluídos vazando pelas cavidades expostas, de cheiro putrido, de olhar leitoso e sem brilho. Morte asquerosa. Ainda mais asquerosa que uma vida sem sentido. Queria só desaparecer. Transparente por inteiro. Não incomodar. Morto a memória e a dor incomodam ainda mais. Resta caminhar sendo um estorvo.

terça-feira, 7 de janeiro de 2014

Brevíssimo ensaio pseudo-científico

Aula de Biologia Vegetal I - Santo André, 17 de Setembro de 2013 - 10h48 da manhã

"A ciência é irmã caçula (talvez bastarda) da arte."
César Lattes - Bastarda, certamente bastarda.

A coisa mais bonita na biologia é sua historicidade e sua busca por uma verdade, por um sequencia de eventos lógica, explicativa e única.
A biologia busca despir-se dos termos funcionais, da finalidade, da idéia fechada de que coisas existem para o que fazem, de que as coisas foram criadas com um objetivo. Quer-se na biologia definir estruturas pela sua origem, pelo o que são, e não pelo o que fazem. Numa extrapolação romantico-filosófica (e provavelmente imprópria) a biologia é uma reafirmação realista de que as coisas, e sobretudo as coisas vivas, são simplesmente o que são e belas por si só, de que o homem não tem deveres morais ou políticos que não possam ser alterados, adaptados, remodulados. A biologia é, sobretudo, uma reafirmação da liberdade humana, da liberdade animal, da liberdade dos organismos vivos e não vivos; é um tratado da desorganização do mundo; é uma tentativa de descrição organizada por leis probabilisticas e físico-químicas de sistemas caóticos.
Afirmando a liberdade e a falta de organização as ideáis biológicas são (para mim) uma declaração contra os opressores, contra a eternização da humanidade. Biologia é uma forma de hedonismo que me garante que sou o que sou e que isso é ser senhor de minhas escolhas. As idéias biológicas são portanto um tratado apaixonante e realista do que somos, de modo que a dificuldade em relação a sua aceitação é natural em uma sociedade em que o finalismo impera. Apenas através da sistemática filogenética e do ensino da evolução pode-se tentar alterar essa mentalidade: não apenas a formação biológica passa pelo ensino da evolução, mas a formação crítica, a formação científica sensu lato, dependem de idéias elegantes, belas e abrangentes tal qual as que sustentam a biologia.
Biologia é minha forma de pensar, é meu conjunto de princípios, minha filosofia de vida. Talvez já tenha nascido com essa paixão, talvez tenha se formado depois; mas ela está latente ali sempre.