segunda-feira, 24 de fevereiro de 2014

Uma hora a gente aprende

Uma hora a gente aprende que há coisas que não se concerta.
Uma hora a gente aprende que certas dores são incorrigíveis, que certas lembranças não se deixa de lado, que certas felicidades não fazem milagres.
Uma hora a gente aprende que não tem muito porque tentar, que estar ao lado é o melhor que se pode fazer, que se afastar as vezes é bom.
Uma hora tudo gira em trezentos e sessenta graus e parece que é tão simples, e que tudo que se fez foi tão vão, tão ruim.
Uma hora a gente percebe que não há humano senhor do tempo, dono do seu destino.
Uma hora a gente aprende que reina o caos e que a realidade e a calma se seguem apenas de visões irreais.
Uma hora a gente aprende que viver na irrealidade não é um problema e que o normal é ser avoado.
Uma hora, cedo ou tarde, algo acontece e a gente aprende que não pode resolver todos os problemas do mundo com a gentileza.
Uma hora a gente aprende que o amor nem sempre é o suficiente, e logo depois repara e percebe que e daí se não é o suficiente? O amor é o que a gente tem.
Uma hora a gente aprende o que realmente importa, e segue amando.
Sente e caminha.

terça-feira, 18 de fevereiro de 2014

Pão de Queijo

Descrevia amor como dentes-de-leão, sementes aladas, brancas, macias. Descrevia amor como paz que cresce na Terra e se desfaz na tempestade pra florescer na primavera. Descrevia o amor como conhecia o amor, como se apresentava. Estranho que em sua cabeça o amor era físico, tangível, eterno. Estranho que em sua cabeça era como conto-de-fadas, muito mais distante da descrição precisa de dentes-de-leão.
Precisa pela mutabilidade. Precisa pela curva adrupta, repentina, pelo fim inesperado. Precisa porquê de todas as sementes as vezes nenhuma brota. Precisa porquê de todas as sementes a que brota as vezes é maldita.
Descrevia o amor mais próximo da realidade do que o sentia, até que o viu real como descrevia.
Pois, amor não vem em forma de planta viva que cresce e reproduz para ser eterna. Amor não vem em forma de viajante da brisa, não vem de passagem. Amor vem de onde menos se espera. Amor vem quente, e é consumido quente... Amor carece de ser requentado dia a dia, cozido a fogo lento. Amor carece de surpresa. E sobretudo, amor é porto-seguro, não soprado pelo vento.
De repente tem gosto de tarde chuvosa, de sono nos lençóis, de café com leite batido. De repente o amor não é eterno, mas é breve todos os dias com o mesmo sabor, quiçá da mesma pessoa.

sábado, 15 de fevereiro de 2014

RATOS



Aquela sensação de não querer nada, de não ter razão para nada, alegria em nada. Nada. Fecha os olhos e vem a mente nada. Nada não, vem sala quadrada de cantos escuros. Dentro dela um rato translucido de cauda grossa, sem pelos, semi-transparente com cérebro e veias amostra.
O melhor que qualquer ser humano pode fazer para o mundo é morrer.
Não quero morrer, mas quereria, as vezes, talvez me matar. Me infringir a dor da morte por sofrer pouco, por saber pouco, por merecer ainda menos. Me sinto uma merda, uma coisa inútil e quebrada; e por sentir isso e deixar que as pessoas vejam isso sinto-me ainda pior. Um estorvo.
Rato semi-transparente vetor de pragas e de injúrias, cujo único expurgo é a morte. Morte de fluídos vazando pelas cavidades expostas, de cheiro putrido, de olhar leitoso e sem brilho. Morte asquerosa. Ainda mais asquerosa que uma vida sem sentido. Queria só desaparecer. Transparente por inteiro. Não incomodar. Morto a memória e a dor incomodam ainda mais. Resta caminhar sendo um estorvo.