sábado, 15 de fevereiro de 2014

RATOS



Aquela sensação de não querer nada, de não ter razão para nada, alegria em nada. Nada. Fecha os olhos e vem a mente nada. Nada não, vem sala quadrada de cantos escuros. Dentro dela um rato translucido de cauda grossa, sem pelos, semi-transparente com cérebro e veias amostra.
O melhor que qualquer ser humano pode fazer para o mundo é morrer.
Não quero morrer, mas quereria, as vezes, talvez me matar. Me infringir a dor da morte por sofrer pouco, por saber pouco, por merecer ainda menos. Me sinto uma merda, uma coisa inútil e quebrada; e por sentir isso e deixar que as pessoas vejam isso sinto-me ainda pior. Um estorvo.
Rato semi-transparente vetor de pragas e de injúrias, cujo único expurgo é a morte. Morte de fluídos vazando pelas cavidades expostas, de cheiro putrido, de olhar leitoso e sem brilho. Morte asquerosa. Ainda mais asquerosa que uma vida sem sentido. Queria só desaparecer. Transparente por inteiro. Não incomodar. Morto a memória e a dor incomodam ainda mais. Resta caminhar sendo um estorvo.

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