quarta-feira, 26 de janeiro de 2011

Soneto de Fidelidade


(Vinícius de Moraes)

      De tudo ao meu amor serei atento
     Antes, e com tal zelo, e sempre, e tanto
     Que mesmo em face do maior encanto
     Dele se encante mais meu pensamento.

     Quero vivê-lo em cada vão momento
     E em seu louvor hei de espalhar meu canto
     E rir meu riso e derramar meu pranto
     Ao seu pesar ou seu contentamento

     E assim, quando mais tarde me procure
     Quem sabe a morte, angústia de quem vive
     Quem sabe a solidão, fim de quem ama

     Eu possa me dizer do amor (que tive):
     Que não seja imortal, posto que é chama
     Mas que seja infinito enquanto dure.




      Sei que posto muito mais os escritos de outrém do que os meus próprios, meu amor. Prometo-lhe escrever algo dedicado somente a você. Acontece que me ocorreu que nunca lhe falei do Soneto de Fidelidade.
    Sei que não é seu tipo de poesia preferida. Você prefere os poetas mais ácidos e menos 'com açucar e com afeto`. Eu sei. Mas não negue a beleza desse poema. Ao invés disso, veja apenas que eu o ofereci a você: Soneto de Fidelidade, poema que traz do nome uma coisa que eu sempre terei em relação a você. Fidelidade não só em forma de atitudes, mas de pensamento; fidelidade de sentimento, sonho, cor, som e alma. Pois te amo.
   Estamos tendendo a zero, não estamos ? Cada vez que compartilhamos nossos seres e dividimos a nós mesmos, estamos mais próximos do nada. E infinitas vezes eu quero me dividir com você. Você é a morada de todos os meus pequenos pedaços. Todas as minhas fatias de átomo

    Só não esperava que pudesse perder tanto de mim e ao mesmo tempo me sentir tão completa.

terça-feira, 18 de janeiro de 2011

Cachos e Trovões

 
Acordei agora
com o barulho do mundo
caindo lá fora.
Meu amor é profundo
agora e outrora

Lembro dela.
A casa vazia,
olho pela janela -
chove uma chuva macia -
memórias visitam minha cela.

terça-feira, 11 de janeiro de 2011

Ent



       "Uns olhos profundos, lentos, solenes, mas muito penetrantes. Eram castanhos, carregados de uma luz esverdeada.
       A sensação era como se houvesse um poço enorme atrás deles, cheio de eras de memória e de um pensamento constante, longo, lento, mas a superfície faiscava com o presente: como o sol tremeluzindo nas folhas externas de uma imensa árvore, ou nas ondas de um lago muito fundo. Não sei, mas parecia que alguma coisa crescia na terra -  adormecida, pode-se dizer, ou apenas percebendo-se a si mesma como algo entre a extremidade de uma raiz e a ponta de uma folha, entre a terra funda e o céu - despertara de repente, e estava observando você com o mesmo cuidado lento que tinha dedicado às suas próprias preocupações por anos intermináveis."


(J.R.R.Tolkien, As Duas Torres)


       Lendo esse pequeno parágrafo, a imagem que mais me pareceu fiel a essa descrição foram seus olhos, meu amor. São olhos de ent, o guardião das florestas. 
       Seus olhos me fazem falta... quero ter o prazer de mirá-los o mais breve possivel.
       Te amo.

Sua, e apenas sua,
V.