quarta-feira, 8 de agosto de 2012

Reflexo - Essa é uma entrada de diário

Cabelos compridos, lisos e pretos. Pele branca, mas ás vezes morena quase dourada. Magro. Rosto fino, criança. Cabeça baixa de franja caindo sobre os olhos, roupas sem importancia. Nada de hobbys, além da leitura e do interesse. Um ser que nasceu com uma lente de aumento imbutida em sua visão infantil, um quê de exagero da forma próprio do adulto depressivo e da criança brilhante.
Essa descrição física e mental é minha, sobre eu mesmo. Acredito que se encaixe muito bem ao que eu era. Uma criança sensível e madura, acho que ninguém diria o contrário. Meus textos, de uma forma ou de outra, nasceram desse drama e desse exagero.
Não nego hoje que sou sim dado aos negativos, a escuridão, e ao não mais do que ao sim. Contudo, esse exagero que assumo e assumi em tudo que produzo, em tudo que escrevo, será que tem ainda lugar no reflexo do que eu realmente me tornei?
Me pergunto se ainda cabe em mim esse tom, ou se já se tornou um invólucro apertado. O curioso é minha escrita ainda egoísta, ainda minha para mim, mesmo quando não estou ou sou mais essa coisa de dentro para mais dentro ainda.
Eu era alguém que gostava da morte. Gostava sim, me intrigava com ela, e a considerava bela. Ainda considero, mas a maturidade me tirou um pouco desse gosto, ou dessa curiosidade. Minto, antes a plenitude me tirou um pouco deste gosto do que a maturidade em si. Ser feliz no decorrer da coisa faz as proporções do fim dela serem bem menores do que quando não se é feliz. Sobretudo descobri na vida de uma forma ampla, e não apenas na minha vida, tantos mistérios para me ocupar e para me empolgar que o pós-vida perdeu a importância. Acho que consegui, finalmente, ser um pouco mais como uma árvore.
A questão é: e agora? O que devo fazer com isso?
Vou seguir para mais um exílio. Não estou empolgado, antes eu sinto que isso é uma coisa meio necessária. Mentiria se dissesse que não sei mais quem eu sou. Na verdade eu sei o que sou, mas sou tanto e de tantas formas diferentes que não consigo mais me ver no espelho. Há algo discordante entre o que penso, o que expresso, o que pareço... E sinto que preciso ajustar tudo isso. Não sei fazer isso se não for sozinho. Sozinho ou recrutando a ajuda da neve.
Quero fazer mais exercícios. Meu corpo se tornou algo meio mole demais para uma mente que antes era também um pouco mais astuta. Quero afiar minha mente e minha lingua como costumavam ser afiadas. Fui deixando tanto de mim no caminho.
Quero voltar a tirar fotos.
Quero aprender a escrever poemas novamente, mas aprender mesmo, do começo. Meu estilo evoluiu para algo meio sem forma, e quero resgatar isso; não exatamente retornar a origem. Não há nada para mim na origem de tudo.
Quero voltar a desenhar. Pois é, já desenhei um pouco um dia.
Quero voltar a me apaixonar pelo o que eu sou. Perdi essa paixão junto com a habilidade de ver meu próprio reflexo.
Perdi o prazer nisso e naquilo, e segui fazendo todos os issos e aquilos como se fossem um ritual. Rituais não condizem com a minha personalidade e foram esses então abandonados aos poucos.
Definitivamente eu preciso de um tempo. Escrever isso será que ajuda?
Como é para vocês? Crescer para vocês, é como isso? As pessoas mudam assim, conscientes da mudança, como eu? Ou vão em sinergia para onde quer que o vento as leve?
Quero voltar a perguntar. Sim, já cheguei a perguntar muitas coisas um dia.

terça-feira, 7 de agosto de 2012

Ilha



Isolei-me numa ilha. Em volta dela construí, molécula a molécula, os sete mares usando toda a minha falta de força de vontade.

Queria eu me proteger do tempo e ignorar o espaço, mas ainda me brotam os pêlos da barba a zombar dessa tentativa. Dia após dia, como um relógio maldito ao qual se dá corda, sou obrigado ao esforço do barbear e me corto... Me lavo na água saloubra, a única que permiti que chegasse até mim.
Os metros, que tentei afogar com tanta força, se juntam em motins de quilometros e me preparam suas investidas diárias. É difícil estar longe do que se é, não saber o que se é, ou medir-se e comedir-se no tamanho correto.

Logo os ventos vão soprar mais uma vez, espero que em direção favorável... Mas cabe o dilema do gato: para onde eu quero ir? Qualquer caminho é favorável quando não se tem caminho nenhum.

Question...

...I just wonder if one day I might feel complete again.

quarta-feira, 1 de agosto de 2012

Chaos

Today my desk is a mess. It is full of papers, drawings, tickets, bills, books, clothes, crayons, gadgets, souls... It is full of my countless souls. Souls I have created to myself and left in stand by, beside my memories. Full of my dreams, my choices, my thoughts, but not my feelings.
I'm not sure whether I still have some feeling. I have a will. A will to conquer knowledge, to conquer happiness, to conquer myself and my weird psychology, to conquer love. I guess this is too much of a thing to be conquered.

Insanidade


Fui costurado - e suturado por cinco ou seis vezes seguidas em intervalos regulares - umas incontáveis tantas vezes na vida. Burro, deslocado, errado, maduro, depressivo, ciumento... Tudo o mais que não deveria ser quando era; gauche para emprestar vocabulário adequado de Carlos. Fui rotulado assim e de outras muitas maneiras.
Cada um desses pedaços foi-me empurrado garganta abaixo, de variadas formas sempre injustificadas costurados sobre quem eu sou. As vezes rasguei-os a parte e mantive o vazio lá, desfiando e esgarçando ao modo de uma calça esfarrapada que não se para de usar. Por outras vezes cobri com sangue os retalhos de cores erradas, tinge-os de mim mesmo para que parecessem menos aliens. Outras vezes permiti que o retalho ficasse. Tornei-me parte dele. Aceitei-o sobre a pele como algo nato.
Românticos morrem aos vinte. Desbotam e morrem aos vinte. Eu, aos vinte-e-um, tenho que lidar com essa coisa estranha de romântico que é não ser quem se é. Não saber ser quem se é, ou se de fato se nasce sendo.
Não há de se descobrir uma explicação racional, científica ou psicológica para quase tudo. Não sou nenhum retalho. Nunca fui nem mesmo os retalhos que eu mesmo costurei na carne, ponto a ponto. Aprendi que tecidos rasgam e desbotam, e não há nada que se possa verdadeiramente fazer sobre isso.
Proponho-me é a arrancar cada um dos retalhos que me costurei. Arrancar aos puxões essa pele maldita e remendada e expor o interno. É hora de deixar a neve e o vento penetrar no todo e diluir o vermelho eu numa substância mais pura. Espero ser capaz.
Crescer não dói. Libertar não dói. Encontrar quem se é não dói. Tudo isso assusta. Assusta porque no fundo ninguém é nada, e o nada, além de belo, é apavorante.

"Não sou nada
Nunca serei nada
Não posso querer ser nada
À parte isso, tenho em mim todos os sonhos do mundo
" - A. C. - alguém que também não era.