quarta-feira, 16 de julho de 2014

Baques

#1

Quero ser assaltado.
Quero ser morto.
Quero ser machucado.
Quero pular de um prédio,
me esfolar no asfalto.
Quero ser apedrejado,
atropelado,
mas não queimado.
Quero um fim sujo,
uma vingança sangrenta.
Quero que meu eu sofra,
agonize e morra.
Quero tanto, mas não posso.
Quero
a dor,
a dor,
a dor,
ardor,
o insuportável,
e o alívio
como se nada tivesse acontecido,
mas não posso.

Da minha lista de presentes,
a inconsciência é o mais caro.

#2

Já era adulto
e talvez por isso ele
que quando criança sabia tanto se expressar
contorcia a fisionomia,
mas não tinha mais ganas de chorar.
Pescava lágrimas do fundo do seu ventrículo direito
e talvez por isso não fisgava nada
além de uma falta de ar.
Não há alma, apenas um corpo
bobo, troncho, morno,
incapaz de uma alegoria que valha a pena
ou de uma rima complexa que seja.

#3

Já tomei café por prazer
mas hoje é café por necessidade.
É máscara de vontade
em uma fisionomia que já morreu,
num rosto que não é mais o meu.


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