quarta-feira, 16 de julho de 2014

Relevos

Não, você não conhece a morte do fundo da depressão. Todo depressivo acha que conhece a morte, mas a verdade é que a morte é um vício. Um vício de quem não sabe ficar sozinho, porque sempre há algo na vigília.

Há no pico da morte um medo estranho unido de uma vontade de deixar os pés balançando na janela e bater a cabeça na parede até que o que eu sou, cada traço da minha fisionomia primata, seja tecido sanguinolento disforme e homogêneo. Estar perto da morte é uma vontade de se destruir calma e paulatinamente; vontade essa que não causa alarme ou estranhamento, mas auto-consciência.

A morte não gosta de quem gosta dela e, por ironia, segue-se caminhando meio-vivo- meio-morto. O lado esquerdo está morto, e aos mortos não se invoca. Na depressão alguém talvez seja perseguido pela morte, incapaz de encará-la de frente visto que está em seu encalço. Os poetas, ao contrário, se contorcem desfiguradamente em direção a morte até que percam toda a esperança em extrair beleza da vida.

A vida é uma merda. A vida como a conhecemos é uma merda.O sentido da realidade é frágil e ele escapa entre meus dedos como minúsculos cacos de um espelho: refletindo minha alma frágil e fragmentada até o fim do abismo.

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