sábado, 24 de julho de 2010

Operações Matemáticas

As pessoas são como números. Cada um de nós é um e é aproximadamente (mesmo que a aproximação as vezes seja um tanto grosseira) igual ao outro. O erro da humanidade não está em ser um conjunto de indivíduos, mas na composição deste conjunto.
Somamo-nos uns aos outros. Eu sou um. Eu e minha casa somos três (embora costumássemos ser quatro ou cinco), eu e minha família próxima somos algo perto de dez... e então somo mais uns, distantes, e seremos quase cinquenta. Quando entro na unversidade me somo a mais cem da mesma sala, quiçá mais. Alguns uns estão próximos e são imediatamente somados a mim. Outros uns estão distantes e sequer sei seus nomes, apenas somamos por estarmos na mesma caixa, na mesma universidade, mesma cidade, estado, país, planeta. Quantos somos? Um estatístico talvez possa precisar de forma imprecisa, o quê não faz o menor sentido. Somos infinitos.
Infinito. Pode parecer pontual, exato, belo. Não há nada de belo no infinito. Infinito mais ou menos um continua sendo muito grande, continua sendo grande demais, e continua sendo infinito. A lógica fica caótica. O tudo caminha para a destruição.
Eu - ignore o mundo, falo de mim - não sou assim. Recuso-me a somar. Não me somo sequer àqueles que amo, não! O infinito é efêmero e morre com grande facilidade. Ao contrário eu tenho uma ânsia por ser imortal e isso me norteia a permitir que partes de mim sobrevivam, pois o todo sempre morre. Eu me divido, pedaço a pedaço, entre as pessoas que passam por minha vida. A divisão, ao contrário da soma, implica perda e implica intimidade. A divisão é verdadeira, mesmo que as vezes dolorida.
As vezes me pergunto se ao me dividir sobra algo de mim para mim mesmo. Me pergunto ainda se o quê talvez sobre é a parte central, a essência, ou a impureza, descartável. Não importa, pois me diminuo ao longo da vida... Sou um meio, um quarto, um oitavo, um dezesseis-avos, um trinta-e-dois-avos, um sessenta-e-quatro-avos... um muito-grande-avos, um infinito-avos. Sou zero. Sou nada. E o nada não pode ser reduzido pela morte.
Peço mui respeitosamente que abstraía-se de somar-se a mim, caro leitor. Não desejo de forma alguma a sua presença, ela não me trará prazer algum. Ao contrário, divida-se. Se toque, e toque-me, por favor. Permita-se ganhar uma certa intimidade, e não se permita morrer.
A maior falha da humanidade é que soma-se com a indiferença quando deveria dividir-se com o amor. Sou uma fração de todos aqueles que amo; todos juntos tendemos a zero, e o nada é tudo.

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