sexta-feira, 24 de dezembro de 2010

Dante e o Abismo

Passei uma parte da minha noite hoje no escuro - ACORDADO. Li algo que me deixou meio irriquieto. Gosto de vampiros, e lia Memnoch de Anne Rice, simplesmente a melhor escritora de história de vampiros e bruxas de que já ouvi falar. Só por um momento ignore que o livro era sobre os vampiros e lhe explico o que houve.
Refugiei-me na leitura com a única esperança de entreter-me, entediar-me e dormir. Contudo me deparei justamente com o momento que o fictício Lestat visita o Paraíso e o Inferno, acompanhado do Demônio (as palavras foram capituladas como Rice, ou antes sua tradutora, sugere).
Memnoch, o Demônio, faz uma descrição detalhada da criação dos anjos e lança um argumento para a existencia da Terra, selvagem como a vemos: um experimento. Segundo este fiapo de ficção toda a Terra e o Tempo em sí são nada mais que uma experiência Daquele que criou tudo para entender, Ele mesmo, de onde ele surgiu. Me pareceu muito belo esse raciocínio - nós criaturas Dele, e Ele por sua vez também nossa criatura.
Gostei da maneira como o livro descreveu toda a evolução, em uma ordem assustadoramente bem estruturada em relação ao Darwinismo. Igualmente, a filosofia tecida por Anne Rice me pareceu também assustadoramente de acordo com as histórias contadas e recontadas em tantas mitologias, seitas, religiões... Me pergunto se a ficção foi uma maneira desfarçada e astuta de deixar transparecer algum tipo de crença pessoal. Não digo que algo se revelou a autora, e se dissesse nem acreditaria - me parece cada vez mais claro que minha única crença intrínseca é a beleza - mas pela forma bem moldada em que a coisa se desenrolou, e pela maneira tão prazerosa com que foi escrito e lido esse pedaço de texto, me é inevitável concluir que ela pensou muito sobre o assunto. Iria tão longe quanto dizer que o livro inteiro fora escrito com este propósito, pois seu início é extremamente enfadonho, basicamente páginas desperdiçadas para ajudar os leitores a acompanhar a série de histórias.
Outro detalhe que me chamou a atenção: os anjos e almas se comunicavam através de canções. Li isso também em O Silmarilion, de Tolkien (recomendo!). A primeira vez que li essa idéia amei-a e abraçei-a de pronto. Era linda. Meio que nutro uma esperança de que a 'canção da criação' seja uma verdade em algum texto de valor histórico que desconheço ou que simplesmente ainda não tenha sido encontrado. As probabilidades não são pequenas, ambos autores a que me referi são conhecidos por fazer pesquisas antes de escrever.
Não devia me apropriar de tantas coisas, tampouco misturar crenças com ficções e realidade, mas a únião de todas as maneiras de enxergar as coisas, a união de todas as minhas facetas, se perfeitamente ordenada é certamente a hipótese que mais se aproxima da verdade. Só sei viver assim. Só sei viver uno, em busca da verdade.

Este é o fim do texto, e o momento das explicações. Estou confuso. Pensei primeiro em uma série de desculpas que possam impedir fanáticos religiosos de me atacar por algo tão imbecil. Depois, ou ainda quase que ao mesmo tempo, pensei também em uma série de ressalvas para explicar que eu mesmo não sou um fanático e não acredito em nada tão fortemente que não possa discutir - a beleza é discutível, é o que a torna prazerosa. Por último pensei em deixar tudo no não-dito, afinal a inexistência causa mais comoção que a existência. Tomei a decisão de ser sincero. Se for inteligente não preciso explicar muito mais que isso, e poderá vislumbrar a loucura de todas as minhas ligações neurais de um tapa só. Espero que não estivesse em busca de nenhum especial de natal!

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